Equipe de Bolsonaro estranha papel do MDB
Maurício Corrêa, de Brasília —
Entre partidários do presidente eleito Jair Bolsonaro existe uma firme convicção: o MDB, através do ministro de Minas e Energia, Wellington Moreira Franco, estaria manobrando com muita liberdade para manter, no Governo Bolsonaro, por mais estranho que isso possa parecer, o comando político do partido sobre o MME.
As pontas de lança do titular do MME nessa delicada costura política, segundo as mesmas fontes, seriam o deputado Leonardo Quintão (MDB-MG) e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone. Ambos, segundo os mesmos especialistas, estariam envolvidos até o pescoço na estratégia do MDB de continuar mandando no MME.
Na ante-sala de Bolsonaro, essa manobra do MDB é vista com total perplexidade, até porque aparentemente ninguém ainda conseguiu convencer o presidente eleito quanto ao perigo que o trabalho de bastidores engendrado pelo MDB pode representar para o futuro governo em uma pasta tão estratégica.
Uma fonte explicou a este site que todo mundo conhece o histórico encantamento do MDB com a área de Minas e Energia. “Entra governo, sai governo, o MDB não larga o osso de jeito nenhum”, comentou um especialista muito próximo da equipe de transição, frisando que “o Bolsonaro foi eleito exatamente para implodir esse grupo. Não para permitir que eles continuem mandando na área de Minas e Energia”.
“Agora, por exemplo, está igual sarna para cima do MME, sendo que o MDB se esquece que não tem qualquer relação com o nosso futuro governo. É muita cara de pau desse pessoal do MDB. Alguém precisa dizer com clareza ao ministro Moreira Franco que o período de governo dele termina no dia 31 de dezembro. No dia seguinte, começa o governo do PSL e das forças que apoiaram o presidente Bolsonaro, entre as quais não se encontra o MDB”.
Na visão do pessoal de apoio ao presidente eleito, também existe uma enorme perplexidade com o jogo político arriscado em que o diretor-geral da Aneel está mergulhado, quando, por função, ele deveria se ater a questões de natureza técnica que envolvem o setor elétrico brasileiro. “O Pepitone claramente está extrapolando as suas atribuições legais. Ele pode ter até as suas afinidades pessoais ou ideológicas com a turma do MDB, mas não pode sair por aí fazendo campanha aberta em favor de um candidato apoiado por Moreira Franco, como está acontecendo. O pior de tudo é que ele acha que não tem ninguém observando”.
“Eles acham que ninguém percebeu ainda que o Pepitone virou uma linha auxiliar direta do Moreira Franco. Ele não tem, aliás, qualquer obrigação de fazer isto, só porque foi indicado para dirigir a agência sob a égide do MDB. O mandato independente é exatamente para isso, para não ter esse tipo de compromisso com as forças partidárias. No passado, sob o governo do PT, a Aneel chegou a se transformar em um apêndice do MME, sob o ponto de vista técnico. Agora, com Pepitone, estamos assistindo mais um capítulo triste na história da agência, que é vê-la tornar-se um apêndice político do ministro de Minas e Energia, Wellington Moreira Franco”, lamentou o auxiliar do presidente eleito.
Em relação ao papel desempenhado pelo deputado Leonardo Quintão, é considerado normal, pois está no papel dele de parlamentar.
Todas essas críticas têm nome e sobrenome. Para o pessoal de apoio a Jair Bolsonaro, a estratégia do MDB está por trás de todo o lobby que envolveria o nome do consultor Adriano Pires como sucessor de Moreira Franco.
Inclusive, a tese equivale a um verdadeiro jogo de xadrez, pois, caso Adriano Pires seja eventualmente vetado pelo presidente eleito, pois tem sido um declarado lobista de grandes empresas da área de energia, o grupo do MDB já teria, na manga, o nome do deputado (em fim de mandato, pois não se reelegeu) José Carlos Aleluia, do Democratas da Bahia.
O fato de Aleluia ser do Democratas e considerando que o seu partido já conta com três ministros indicados por Bolsonaro, para compor o futuro governo, não quer dizer muita coisa, no entendimento dessas fontes. “Ora, ele hoje é do DEM, mas, como não tem mais mandato e provavelmente não será mais candidato a nada, a coisa mais simples que existe é desfiliar-se”.
De fato, Aleluia vai completar 71 anos de idade nos próximos dias e, no ambiente político, acredita-se que ele não teria mais interesse em submeter-se a outras eleições. “Com isso, o argumento fica afastado e Aleluia, paradoxalmente, teria campo limpo para vir a ser um ministro da total confiança do grupo do MDB que hoje manda no MME”, alegou a mesma fonte.
É uma costura política delicada. No “bunker” da equipe de transição, existe confiança no presidente eleito, no sentido que ele estaria apenas dando tempo ao tempo e que, quando agir e anunciar a sua decisão, não vai colocar azeitona na empada do MDB. “Não tem qualquer sentido sob o ponto de vista da política partidária, mesmo vendo sob o ângulo do amplo leque de apoio que o presidente está buscando dentro do Congresso Nacional”.