Venda de energia para Argentina bate recordes
Maurício Corrêa, de Brasília (com apoio do MME) —
O Brasil praticamente bateu no limite de volumes de energia que podem ser exportados diariamente para a Argentina. Por conta das restrições técnicas das conversoras localizadas na fronteira, o limite é de 2 mil MW médios. Mas, segundo Walfrido Avila, da comercializadora Tradener, que é líder nessas exportações, o Brasil transferiu à Argentina, nesta quarta-feira, 31 de janeiro, 1.950 MW médios.
“O mercado de exportação de energia para a Argentina está aquecido, devido ao aumento sazonal da temperatura no País vizinho e à necessidade que eles têm de contar com mais energia no sistema. E aqui nós temos a disponibilidade de exportar a energia elétrica gerada por termelétricas a gás natural, cujo preço é conveniente para a Argentina”, declarou Avila.
Segundo o MME, o Brasil voltou a exportar energia elétrica para a Argentina, na segunda-feira passada, 29 de janeiro. Essa exportação teve uma peculiaridade: o despacho foi proveniente de usinas termelétricas localizadas nas regiões Sul e Nordeste, na modalidade comercial. Os montantes exportados chegaram a 325 MW médios.
No dia seguinte, ocorreu uma nova exportação de energia elétrica, de 692 MW médios, a partir de termelétricas localizadas nas mesmas regiões. Nesta quarta-feira, foram mais 1.950 MW médios. “No curtíssimo prazo, praticamente em todos os dias, teremos exportações de energia das nossas térmicas a gás natural para a Argentina”, esclareceu o presidente da Tradener.
Este tipo de exportação de energia elétrica segue as diretrizes estabelecidas na Portaria nº 418/GM/MME, de 2019, e não afeta a segurança eletroenergética do Sistema Interligado Nacional (SIN).
No entendimento do MME, trata-se de uma política pública que produz benefícios para ambas as partes, como a otimização do uso dos recursos energéticos e das infraestruturas existentes, a redução dos custos de energia elétrica e o fortalecimento das relações entre os países vizinhos.
A contraparte argentina da Tradener nos negócios é a Cammesa (Cia. Administradora del Mercado Mayorista Eléctrico Sociedad Anónima), uma empresa classificada como de “gestão privada com propósito público”. De fato, a Cammesa, criada em 1992, é propriedade dos agentes do mercado atacadista da Argentina, que têm 80% do negócio, mas o Estado argentino é detentor dos 20% restantes.
Avila, da Tradener, não economiza elogios para a atuação da Cammesa, que, na prática, representa algo como a junção dos brasileiros CCEE e ONS. “Por uma série de fatores históricos, os quais não cabem aqui explicar, a Argentina pode transmitir aos brasileiros uma imagem permanente de desorganização e ineficiência. Mas quando se olha para a Cammesa não é nada disso”, explicou.
E finalizou: “A empresa é extremamente organizada e eficiente e, em alguns aspectos, os argentinos estão muito à frente do Brasil. Na integração energética, por exemplo. Eles utilizam a inteligência do mercado de forma eficiente e são craques nas transferências de energia envolvendo a Argentina, o Brasil, o Chile, o Paraguai e o Uruguai”, disse. O executivo também elogia as autoridades brasileiras envolvidas com a pauta da exportação de energia elétrica, MME à frente.
Integração com a Bolívia
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apoiou o avanço da integração energética entre Brasil e Bolívia, durante reunião realizada nesta terça-feira, 30 de janeiro, com o ministro boliviano dos Hidrocarbonetos e Energia, Franklin Molina Ortiz. Silveira também defendeu ampliar a capacidade de produção de energia na Usina Hidrelétrica (UHE) Jirau, localizada próxima à fronteira entre os dois países.
Segundo o ministro brasileiro, aumentar a produção da hidrelétrica é importante para a modicidade tarifária no Brasil, além de poder exportar o excedente gerado pela usina para o país vizinho. Silveira ainda afirmou que os sistemas isolados da Bolívia poderão ser conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) para auxiliar no processo de descarbonização, além de permitir a venda de energia.
“Queremos avançar nas negociações das regras da operação da usina de Jirau, aumentando a sua produção. Além disso, vamos contribuir com a descarbonização dos sistemas isolados do país vizinho, ampliando ainda mais a parceria com os países da América do Sul, assim como já acontece com a Argentina, Uruguai e Paraguai, por exemplo”, afirmou Alexandre Silveira.