Mexilhão dourado prejudica hidrelétricas
Da Redação, de Brasília (com apoio da Aneel) —
O que o setor elétrico brasileiro tem a ver com o mexilhão-dourado, um molusco de água doce, nativo do sul da Ásia, que é uma espécie de terror para praticamente todas as geradoras hidráulicas do País? Tem tudo. Esse bichinho tira o sono de muita gente no SEB, pois é capaz de se fixar em quase qualquer tipo de superfície e dispõe de enorme capacidade de adaptação, produzindo até 150 mil indivíduos por metro quadrado.
Espécie invasora exótica, foi introduzido no Brasil no final dos anos 90, através da lavagem de tanques de navios mercantes. Com apenas 30 dias e aproximadamente 0,5 cm o mexilhão dourado já começa a reproduzir e pode viver até três anos. Em pouco mais de 20 anos, tornou-se uma praga nas bacias do Paraná, Paraguai, Uruguai e Bacia Jacuí/Patos.
Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fugiu um pouco de sua agenda tradicional e organizou um workshop internacional para discutir soluções que permitam combater a infestação do mexilhão dourado. O evento foi parte de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Aneel.
Embora pouca gente tenha ouvido falar do molusco, como ele se fixa com facilidade em estruturas rígidas, pode assim ocasionar a obstrução de tubulações e equipamentos em instalações hidrelétricas e de abastecimento, causando impactos financeiros.
No workshop, a diretora Agnes da Costa, da Aneel, destacou a importância de reunir stakeholders tanto da área privada quanto pública para tratar da questão de controle biotecnológico. Ela apresentou números alarmantes relacionados à infestação do mexilhão.
“Já são 30 anos de infestação e nenhum sinal de arrefecimento; mais de 10 mil Km de rios infestados; mais de 60% das bacias hidrográficas infestadas até 2030 e impactos em todas as atividades econômicas de reservatórios multiuso (pesca, navegação, piscicultura, geração de energia e outras)”, afirmou a diretora. Ela também destacou os impactos para o setor elétrico. “São mais de 40% das usinas atingidas e mais de 50% da capacidade instalada infestada”, pontuou.
O vice-presidente de Comercialização da CTG Brasil, Evandro Vasconcelos, elogiou a iniciativa da agência reguladora e destacou que o mexilhão avança muito rapidamente, sendo preciso um esforço ainda maior para combatê-lo, pois, caso contrário, a operação de grandes usinas pode ficar inviabilizada.
O diretor técnico da Tijoá Energia, Newton Lins, elogiou a iniciativa da Aneel em realizar o workshop e o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento sobre esse tema. Também enfatizou que deve haver um plano de articulação conjunto entre interessados e envolvidos para combater o avanço da infestação.
Para o representante da SPIC Brasil, Sunny Jonathan, os programas de P&D fazem parte do planejamento estratégico da empresa e comemorou os avanços já realizados. Reiterou, ainda, que todos os impactados pelo problema devem atuar em conjunto. Já o membro do Conselho de Administração da Cemig, Afonso Henrique Moreira, ressaltou que uma questão ambiental desse porte é muito séria e deve preocupar cada cidadão, cada empresa. Moreira também reiterou que deve haver um trabalho conjunto de todos os envolvidos e não apenas do setor elétrico.
Também participaram do evento representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recuros Naturais Renováveis (Ibama), da ATGC Genética Ambiental, Bio Bureau, Hubz, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Cedro Capital, além de representantes dos Estados Unidos (US Bureau of Reclamation) e China (Tsinghua University).
Ao final do evento, o superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética, Paulo Luciano, ressaltou que a realização do workshop é a prova de que o programa está dando frutos e que a divulgação dos resultados é importante, pois mostra para a população o bom investimento dos recursos.
Projeto de P&D da Aneel
As iniciativas para o combate a infestação do mexilhão fazem parte do programa de P&D da agência. Os principais desafios para desenvolvimento dos projetos relacionados a esse tema são:
• Tecnológico: modificar geneticamente uma espécie para a qual não existia um programa genético formal e nem reprodução em cativeiro. Depois escalonar a produção.
• Regulatório: ser o primeiro controle biotecnológico com base em gene-drive a ser testado no ambiente, no mundo
• Mercadológico: time-to-market elevado. Identificação do cliente econômico para uma solução de benefício difuso
• Social: vencer o preconceito e a desinformação para soluções envolvendo organismos geneticamente modificados
• Financeiro: assegurar o financiamento contínuo dos R$50-100 milhões que podem ser necessários para levar a solução ao mercado