Sachsida reafirma apoio ao mercado
Maurício Corrêa, de Brasília —
O professor e economista Adolfo Sachsida é um bolsonarista entusiasmado e assumido. Nesta quinta-feira, 08 de dezembro, ao prestar contas de suas atividades no Governo Federal, onde foi secretário de Política Econômica e assessor especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia e, nos últimos sete meses, ocupou o cargo de ministro de Minas e Energia, mais uma vez prestou lealdade ao presidente Jair Bolsonaro.
Embora não tenha sido esta a sua intenção, o fato concreto é que, em sua exposição, Sachsida indiretamente evidenciou uma das razões pelas quais Bolsonaro perdeu a eleição. Enquanto o presidente, durante a campanha, perdeu um tempo gigantesco com foco num discurso de caráter ideológico, que sensibilizava apenas os frequentadores do cercadinho do Palácio Alvorada, Sachsida mostrou que trabalhou muito nos dois ministérios, com iniciativas relevantes para o País. Ou seja, apenas mostrou produção, enquanto Bolsonaro, quando muito, só arranhou essas realizações na campanha.
Os números são expressivos. Entre 2019 e 2022, houve uma expansão de 25 mil MW na geração elétrica, 85% dos quais através de energias renováveis. O portfólio das linhas de transmissão cresceu 32 mil km e os investimentos na área de energia em geral totalizaram R$ 200 bilhões. O Governo investiu nos projetos “Luz para Todos” e “Mais luz para a Amazônia”, visando aumentar o nível de universalização dos brasileiros quanto ao atendimento de energia elétrica, que já é altíssimo.
Durante pouco mais de 2 horas, o ministro coordenou um evento em que ele e alguns assessores prestaram contas do que fizeram no MME, com destaque para o secretário-executivo, Haílton Madureira.
E não foi pouca coisa, o que de algum modo surpreende, pois muita gente torceu o nariz, quando Sachsida foi nomeado para suceder o almirante Bento Albuquerque, considerando que ele era apenas um tecnocrata federal sem o DNA do setor de energia elétrica, petróleo, gás natural ou mineração. Mas ele deu conta do recado e, sem se meter em polêmicas, calou a boca dos que o criticavam no mês de maio passado, quando tomou posse.
De fato, olhando para Sachsida, ele não tem nada que o identifica com alguns engenheiros do setor elétrico, que acham que têm o monopólio do conhecimento técnico do setor. Ele é uma pessoa simples e informal e já disse várias vezes que não se sente nem melhor e nem pior do que ninguém. Mas é um técnico que tem ideias modernas e boas para a sociedade, lutando para colocá-las em prática. Sua experiência no Ministério da Economia o transformou num ministro de Minas e Energia diferente dos anteriores, pois é um técnico que pensa para fora da caixa e busca soluções criativas e inovadoras para questões que as vezes se arrastam há anos na burocracia federal.
Os engenheiros que o criticam olham para um setor elétrico que está em fase de extinção, pois são incapazes de compreender as mudanças do mundo atual e que a área de energia em geral está mudando junto. Essa divergência é apenas mais um capítulo na luta entre os eletrossauros, que vivem do passado, e aqueles, como Sachsida e Madureira, que olham para o presente e tentam projetar o futuro.
O secretário-executivo Haílton Madureira é bem um símbolo da equipe de Sachsida. Para começar, é um técnico de carreira do Governo Federal, auditor fiscal de Finanças e Controle. Ao contrário de sua antecessora, que se identificava totalmente com o antigo setor elétrico, Madureira comprou a ideia básica de Sachsida, no sentido que era necessário tocar um MME voltado para os interesses dos consumidores, defesa ampla e irrestrita da energia limpa e renovável e redução de tributos. “Energia barata não é boa só para o consumidor. Também gera emprego e renda”, sintetizou o ministro.
O ministro desceu do palco do auditório do MME e, de pé, como se tivesse falando aos seus alunos, disse que “infelizmente” o atual Governo perdeu a eleição. “Tenho muito orgulho de ter participado deste Governo”, declarou, emendando: “Perdemos de pé e é preciso respeitar o time que está aqui”.
Sachsida revelou que ele e sua equipe estão deixando no MME (os detalhes já foram transmitidos à equipe de transição do futuro Governo) propostas de arcabouço legal totalmente prontas, contemplando várias áreas da Pasta. “Que ninguém diga que teve terra arrasada ou herança maldita. Está tudo pronto”, garantiu, alertando que “basta não fazer maluquice, pois vai chover dinheiro (no Brasil)”.
No seu raciocínio, o mundo internacional do dinheiro está passando por uma realocação “brutal” de investimentos e, nesse contexto, está chegando “a hora do Brasil”. Ele lembrou que, nesse patamar da economia mundial, as coisas são calculadas em trilhões. “Temos que aproveitar, pois o Brasil é um porto seguro para os investimentos”.
“Não há bom vento se não sabemos para onde se quer ir”, filosofou o ministro, frisando que a sua gestão está deixando um legado para o próximo Governo. Ele lembrou, entre outras iniciativas, a expansão do mercado livre de energia elétrica e a geração distribuída. “Temos que abrir o mercado, ter foco no consumidor”, reafirmou, repetindo inúmeras vezes que o consumidor brasileiro precisa ser colocado em primeiro lugar.
Adolfo Sachsida e Haílton Madureira sintetizaram várias iniciativas já oficializadas e outras que se encontram no nível de propostas para o novo Governo. O ministro destacou o linhão Manaus/Boa Vista, a queda estrutural dos preços dos combustíveis e energia elétrica, a oferta de áreas permanentes no pré-sal, novos instrumentos de financiamento e melhores marcos legais para que o empresariado possa trabalhar com segurança. “Cumprimos o combinado”.
Para o ministro, os brasileiros já podem se orgulhar de muita coisa. “O Brasil é hoje, em sustentabilidade, o que a Alemanha quer ser daqui a 15 anos”, disse, acrescentando que, em 2040, no mundo, os países usarão diesel com 5% de biodiesel. No Brasil, já são 10%. Além disso, no Brasil, as energias renováveis são 85% da matriz energética, enquanto o mundo em geral está na faixa de 28%.
Entretanto, algumas coisas preocupam o ministro de Minas e Energia. Ele reafirmou uma tese que vem destacando nos últimos dias, dando conta que no setor elétrico brasileiro coexistem inúmeros “puxadinhos”, pois cada segmento protege seus interesses e fica puxando a brasa para o lado da sua sardinha, seja através de um processo desenfreado de judicialização, seja por meio de intenso lobby no Congresso Nacional, o que leva ao envolvimento de congressistas e juízes, que tomam decisões sem conhecer o caráter técnico.
“Essas decisões impactam a sociedade, pois tudo é judicializado. Precisamos criar um mercado de energia forte, consistente, porque o setor não aguentará mais 10 anos nesse ritmo”, disse Sachsida. “Aqui é tudo acima do bilhão. Então, decisões judiciais podem quebrar empresas. O SEB é um grande puxadinho e não dá para ser assim, pois vivemos um tempo de energia barata e conta de luz cara. Vai morrer todo mundo abraçadinho. Por isso, entendo que cada um precisará ceder um pouquinho”, afirmou o ministro de Minas e Energia.
Nesse contexto em que Sachsida visualiza um novo tipo de setor elétrico brasileiro, ele acredita que não se pode proibir as novas tecnologias, citando como exemplos as baterias de lítio e o uso do hidrogênio verde. “É o momento de refletir”, declarou, terminando com um apelo que na sua visão simboliza a origem de todos os problemas do SEB. “Precisamos encontrar um mecanismo de preços”. Ele lembrou ainda que a antiga União Soviética fracassou, entre outros motivos, porque nunca soube praticar um adequado mecanismo de preços na economia.