Um banco recém-liquidado pelo Banco Central deixou muita gente assustada quando se revelou que seus CDBs estavam bichados e sem lastro.
O Banco Central é uma agência reguladora forte e acostumada a lidar com esses traumas do mercado. O sistema do BC de controle do mercado é muito bom. Por isso, é relativamente fácil descobrir quando um banco não está operando de acordo com as regras bancárias.
Em um primeiro momento, o BC tenta buscar uma solução de mercado, mas, quando não é possível, liquida o freguês sem piedade, extrajudicialmente, como acaba de fazer.
Na área de energia elétrica deveria ser assim. Só que, fortemente impactadas pelo poder político, que manda e desmanda, a CCEE e a Aneel podem fazer pouco. Sempre tem um deputado sem qualquer importância, lá do fim do mundo, às vezes um mero suplente que teve 585 votos, querendo dar ordens na CCEE ou na Aneel. É triste, mas é a realidade e acontece todo dia. Alguns dirigentes da CCEE e da Aneel são subservientes e aceitam essa situação um tanto humilhante. Eles temem o Poder dos congressistas.
De vez em quando, uma empresa perde a autorização para funcionar. Aí as pessoas ficam perguntando: e o tal monitoramento feito pela CCEE? Não consegue enxergar essas situações? Bem, infelizmente existem monitoramentos e monitoramentos. E o da CCEE não parece ser uma referência.
Mas voltando ao banco recém-liquidado (as histórias vão aparecendo aos poucos e agora já se sabe que o seu controlador se gabava das relações políticas muito especiais que tinha em Brasília), CDB é uma coisa que, pensando bem, rima com PLD.
Este editor é totalmente cético, mas fica imaginando se houvesse uma auditoria independente, um dia, nos livros do PLD, seriam feitas algumas descobertas que provavelmente deixariam arrepiados até mesmo os mais ardorosos defensores dos preços definidos pelos modelos matemáticos do setor elétrico.
Se apenas 10% das histórias que rolam nos bastidores do SEB viessem à tona, muita gente boa ia se complicar, pois, afinal, os preços formulados pelos computadores não passam de uma fantasia, uma ilusão que acaba custando caro para os consumidores de energia elétrica.
O pior de tudo é que é uma situação difícil de sair dela. Toda a estrutura do setor elétrico brasileiro está montada em cima dos preços computadorizados. Se eles desaparecem de hora para outra, ia ser uma bela confusão. Este idoso editor, que sempre adorou confusões a vida inteira, gostaria de viver o suficiente para ver isso acontecer.
É por isso que muita gente tem medo de que isso de fato possa acontecer e prefere deixar como está, mesmo sabendo que os preços definidos pelos programas do ONS/Cepel são uma ficção.
Professores têm medo de perder os alunos; os alunos têm medo de não encontrar emprego depois de formados; os consultores têm medo de perder a boquinha; as empresas também têm medo, mas são conservadoras e não gostam de mexer em algo que pelo menos está funcionando.
E as autoridades, bem, as autoridades são um caso à parte e têm lá seus motivos para deixar tudo como está. Essas autoridades são sempre um campo de muito mistério. Então, todo mundo defende a manutenção do modelo atual, mesmo que já tenha dado o que tinha que dar e esteja prá lá de Bagdá.
Este idoso editor, que não passa de um franco-atirador e que não tem compromisso algum com o modelo, gostaria de ver o seu enterro. Vai ter muita viúva chorando, mas paciência. Assim é a vida.