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Será que Angra 3 agora vai?

Matéria publicada por este site na seção “Notícias”, mostra que a Eletronuclear enviou, no dia 04 passado, ao Ministério de Minas e Energia, o resultado do estudo atualizado sobre a modelagem econômico-financeira de Angra 3, elaborado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com os números do levantamento encomendado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), concluir a usina é a opção mais lógica e benéfica para o Brasil.

Há anos, o Estado brasileiro vem tomando atitudes insensatas e sem justificativas, sob o ângulo da administração pública, em relação a Angra 3. Este site já se manifestou em outras oportunidades, mas agora parece ser diferente. O “Paranoá Energia” mantém a coerência. Concluir a usina é a decisão mais correta que o Estado brasileiro deveria tomar. E este site espera que, dentro em breve, seja adotada.

O país já está de saco cheio em relação a tantas irresponsabilidades praticadas pelos dirigentes públicos (não só do setor elétrico, mas, também, congressistas) quanto a Angra 3. Já está passando da hora de atualizar os estudos, resolver os problemas orçamentários e terminar as obras da terceira usina nuclear brasileira.

Angra 3 é um dos mais gritantes exemplos de descaso da administração pública com uma obra de infraestrutura. Segundo o estudo, o custo do abandono das obras de Angra 3 pode variar entre R$ 22 e R$ 26 bilhões. O valor pode ultrapassar o necessário para a conclusão do empreendimento, estimado em R$ 24 bilhões, sem produzir um único MWh de energia elétrica. É muita irresponsabilidade dos dirigentes públicos terem deixado o projeto de Angra 3 chegar nesse nível atual, revelando falta absoluta de planejamento setorial. É uma situação, entretanto, que poderá ser corrigida.

O MME deverá remeter os estudos ao CNPE, que decidirá pela conclusão ou não da usina em reunião com realização prevista ainda em 2025. O tema já foi debatido pelo CNPE em três oportunidades desde 2024 — em dezembro de 2024, fevereiro de 2025 e outubro de 2025 — ocasiões em que houve voto favorável à conclusão do empreendimento proferido pelo presidente do Conselho, o ministro de Minas e Energia, seguido, contudo, de pedido de vista coletivo pelos demais conselheiros.

O estudo também destaca que Angra 3 oferecerá energia limpa, estável e de longo prazo, contribuindo para a segurança energética e para as metas de descarbonização da matriz elétrica brasileira. Se daqui para a frente o projeto de Angra 3 for levado a sério, a usina já poderá gerar energia em 2033, colocando um ponto final no pesadelo de desorganização que acompanha o projeto desde o início. Só a manutenção do que já foi feito e comprado custa à Eletronuclear a bagatela de R$ 1 bilhão por ano.

O Brasil precisa rediscutir a questão nuclear e o relançamento do projeto de Angra 3 parece ser um momento mais do que adequado. O programa nuclear tomou forma durante a ditadura militar. Era um assunto exclusivos dos militares, principalmente os da Marinha, interessados na viabilização do projeto do submariano nuclear (no governo Bolsonaro, o almirante Bento Albuquerque, que comandou a frota de submarinos, tornou-se ministro de Minas e Energia, mesmo sem entender sobre o assunto, com exceção da área nuclear naturalmente).

Quando veio a Constituinte, os militares ainda mandavam bastante, embora já tivessem sido formalmente defenestrados do Poder. Manobraram o suficiente para incluir um dispositivo na atual Constituição, dando conta que a energia nuclear seria um monopólio da União. Talvez isso tivesse alguma justificativa no final dos anos 80, mas, hoje, é um texto jurássico da atual Constituição. Não há mais qualquer razão para que a geração nuclear seja monopólio da União.

É um pedaço da Constituição que precisa ser revogado. Existem várias empresas responsáveis no mundo que podem construir e conduzir bem uma geradora nuclear, da mesma forma como faz a Eletronuclear. Além disso, existe uma nova realidade na área de geração nuclear no mundo inteiro, que consiste, agora, na construção de usinas dotadas de pequenos reatores e não mais usinas gigantescas como as duas que o Brasil já opera na região de Angra dos Reis.

Os especialistas alegam que o mundo nuclear, hoje, pode ser movido por usinas de menor porte, que, obviamente, custariam menos. O Brasil poderia ter tranquilamente duas usinas nucleares menores no Rio Grande do Sul e duas ou três no Nordeste, todas construídas e operadas pela iniciativa privada. Isso não afetaria em nada a independência nacional e o Tesouro Nacional agradeceria de joelhos e terço na mão.

Enfim, é um mundo novo que parece se abrir para o aproveitamento da energia nuclear no Brasil, país que dispõe de reservas consideráveis de urânio. Este editor já está meio gagá e provavelmente não vai ver essas mudanças, mas espera que elas aconteçam. O Brasil ganha com isso.

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