Quem já viveu na Europa ou que simplesmente acompanha assuntos europeus através da mídia sabe perfeitamente que a União Europeia é um fracasso colossal, que se perde numa burocracia cara e ineficiente e que a sua manutenção só interessa aos políticos.
Basta dar uma olhada nos noticiários diários sobre energia, diplomacia, agricultura ou assuntos de defesa, por exemplo. Aqueles burocratas encastelados em Bruxelas simplesmente não conhecem a palavra eficiência, o que gera enorme descontentamento popular. As populações dos países pagam um custo absurdo para manter o projeto de integração continental.
Este editor faz este comentário não só porque essa é a sua visão pessoal há muitos anos, mas, também, porque, através de um atento observador brasileiro do mercado elétrico ibérico, tem acompanhado os desdobramentos da crise que se abriu depois do apagão que atingiu fortemente a Espanha e Portugal (e um pedacinho da França) no dia 28 de abril. O que está acontecendo hoje naquela parte do planeta é um horror.
A começar pelo fato que o apagão ocorreu no final de abril e um relatório definitivo só estará pronto mais ou menos no final do primeiro trimestre do próximo ano. Na melhor das hipóteses.
O nosso ONS, do qual às vezes reclamamos tanto, produziu um relatório em pouquíssimo tempo para o apagão de 15 de agosto de 2023. Em 15 de outubro, o relatório do ONS já estava pronto, à disposição na internet. Parabéns para o ONS. Dois meses. Lá na Europa, aqueles senhores elegantes, que usam ternos e sapatos italianos e são cheios de pompa, até hoje não conseguem dizer o que aconteceu no sistema elétrico da Península Ibérica em 28 de abril.
Um relatório preliminar entregue às autoridades em Bruxelas, há poucos dias, é um desastre sob o aspecto burocrático. Apenas expõe fatos já conhecidos, não chega a qualquer conclusão e nem indica responsabilidades de empresas ou pessoas. Maravilha de relatório, do jeito que qualquer empresa operadora quer.
Para nós, brasileiros, esse relatório expõe uma preocupação, pois essas mesmas empresas também atuam aqui. Precisamos abrir os olhos com essas multinacionais elétricas.
O relatório preliminar diz que as empresas elétricas que operam na Península Ibérica simplesmente sonegaram dados sobre as interconexões anteriores ao apagão, embora solicitados pelos investigadores.
Candidamente, alegaram que não podiam fornecer esses dados, para não comprometer cláusulas de confidencialidade contratuais. Ou seja, a mesma bobagem que às vezes se alega também no Brasil, em contratos do mercado livre.
Ao contrário da Espanha, o relatório preliminar diz que, em Portugal, ninguém sonegou dados e que foi possível fechar o capítulo. Mas na Espanha os investigadores ficaram chupando os dedos.
O mercado elétrico ibérico trabalha com a hipótese que o relatório final, em 2026, não deverá demonizar as energias renováveis. Ou seja, aqui no Brasil o “curtailment” não deixa ninguém dormir, pois o ONS entendeu que o que levou ao apagão foi o excesso de geração de energia renovável no sistema.
Lá na Espanha, talvez por pressão das empresas, muita gente acredita que não houve problema com as renováveis e que o apagão foi consequência de uma sobretensão que atingiu o sistema elétrico.
Pensando bem, pressão por pressão, lá como cá é tudo igual.