Mudança no Fase só em 2024
A reunião realizada no dia 07 passado pelo Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), para verificar a necessidade ou não de alterar a governança do grupo, ficou sem conclusão.
Democraticamente, a questão foi colocada na mesa. Reclamou quem queria reclamar, defendeu quem entende que não é preciso mudar nada e que está ótimo do jeito que está hoje.
Para alguns, não ter ocorrido qualquer sinalização, por mínima que fosse, ao final da reunião, não foi uma coisa boa, do ponto de vista institucional. Ter jogado o tema secamente para 2024 tem um risco de aprofundar as desconfianças e aumentar o racha hoje existente no Fórum. Argumenta-se que o setor elétrico vai passar por muitas mudanças no próximo exercício e precisa estar o mais unido possível e não o contrário.
Ninguém contesta a legitimidade dos procedimentos atuais tomados pela direção do Fase, quando este menciona que fala em nome da maioria do setor elétrico. Existe convicção total que os procedimentos são corretos e amparados pelas normas atuais que regem o grupo. A dúvida é: as normas refletem à realidade atual do Fase?
Existem várias associações que entendem que o estatuto atual não reflete as condições efetivas de representatividade do setor elétrico, razão pela qual insiste-se na modernização do estatuto, que vem a ser uma espécie de Constituição do Fórum.
Na prática, hoje, o Fase está rigorosamente dividido. E tem um grupo de associações que não se relaciona diretamente com o setor elétrico, mas que por alguma razão está dentro do Fase, fica sempre em cima do muro e acaba dando suporte as decisões do atual grupo controlador, desequilibrando o jogo.
Este site entende que o estatuto atual não é capaz de segurar as divergências existentes nos interesses milionários que caracterizam as várias associações que efetivamente são de segmentos do SEB e integram o Fórum.
Toda organização associativa tem falta de sintonia entre seus integrantes, mas é por isso que os estatutos, que regulam a convivência, precisam ser muito bem costurados, para, na medida do possível, agasalhar todos os interesses ou a maioria deles. Nenhuma associação consegue resistir quando metade de seus integrantes está em guerra com a outra metade.
Não é sem motivo que, quando se olha para as próprias associações que fazem parte do Fase, vê-se que há ali enorme dificuldade para unificar interesses corporativos.
O segmento de geração elétrica, por exemplo, tem associações separadas para representar as grandes hidrelétricas, as pequenas hidrelétricas (neste caso, aliás, são duas), os geradores térmicos a gás natural, a geração eólica, a geração solar, a nuclear, a autoprodução, os geradores a biogás, os produtores independentes de energia e a cogeração.
Os segmentos não conseguem conviver dentro de uma única associação de geradores e cada tipo de gerador tem a sua própria associação. É um caos, sob o ponto de vista da representação institucional. Esse caos vai para dentro do Fase, que sempre busca um equilíbrio, mas nem sempre consegue.
Só essa pulverização de 11 associações apenas de geradores de energia já dá uma ideia a respeito do tamanho do problema que existe no Fase, que ainda agrupa todos os demais segmentos (comercialização, transmissão, consumidores e distribuição de energia elétrica, por exemplo, sem contar os agregados).
Então, construir a engenharia estatutária que equilibra todos esses interesses é realmente uma obra de arte da política empresarial. É por isso que o Fase não está em paz. Não é nada pessoal de ninguém contra ninguém e nem por qualquer outro motivo.
Trata-se apenas de como fazer com que os setores se sintam confortáveis em serem representados dentro do Fórum. Hoje, alguns estão, mas outros não estão. Por isso, o pau está comendo. Parece uma briga de foice no escuro, como se diz no interior de Minas. Pernada para todos os lados.
É verdade que, por enquanto, apesar da dificuldade de convivência dentro do Fase, aparentemente não há alguma associação querendo cair fora do Fórum. Ou seja, o racha ainda é plenamente administrável.
Entretanto, se há um risco ainda reduzido, isto não significa que, em 2024, o tom das reclamações não possa subir, assumir outra dimensão, fugir ao controle e, por exemplo, surgir uma espécie de Fase do B.
Esse risco existe claramente para o setor elétrico brasileiro e vai ser interessante acompanhar o desenvolvimento da questão, no próximo ano, para observar como serão jogadas as peças do tabuleiro de xadrez.