“Centrãoduto” travou PL 414
Maurício Corrêa, de Brasília —
Há um cheiro no ar de racha no setor elétrico em torno da tramitação do PL 414. O fato de o projeto ter sido travado na Câmara dos Deputados, por decisão do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), fez com que alguns especialistas tivessem ficado muito bronqueados ao descobrir a raiz dos acontecimentos que levaram à atitude de Lira.
Historicamente, a modernização do setor elétrico brasileiro, com a consequente ampliação do mercado livre, tem sido liderada pela associação dos comercializadores de energia, a Abraceel. É natural que em determinadas causas, basicamente naquelas que envolvam princípios, ocorra um trabalho conjunto das associações empresariais do setor elétrico. Tem sido assim ao longo dos anos de modo relativamente tranquilo. Agora, a situação mudou e ferveu.
Uma parte dessas associações, envolvendo grandes consumidores industriais de energia, tem uma visão muito peculiar e minimalista a respeito do setor elétrico. Eles se interessam basicamente pelo montante da conta de luz que será pago no final de cada mês.
São importantes, é lógico, na cadeia produtiva, mas os interesses econômicos são conflitantes. Quem vende energia, quer vender naturalmente pelo melhor preço. Quem compra, é o contrário, ou seja, quer pagar o menor preço possível.
A turma da Abraceel, que é o pessoal que vende energia e carrega nas costas há muitos anos a proposta de flexibilização do mercado, dorme, come e respira só pensando na aprovação do PL 414. Isso também é natural, pois vai ampliar a atuação dos agentes comercializadores.
Entretanto, os consumidores de grande porte, agrupados na Abrace, entendem que a proposta do PL 414 embute determinados custos com gasodutos que aumentariam o valor das contas de energia. Chamam isso de “jabutis”.
Então, tá pegando fogo nos bastidores do SEB e no chamado ambiente associativo, até porque alguns comercializadores culpam dirigentes dos consumidores industriais de terem criado e espalhado o apelido de “Centrãoduto” para a parte do PL 414 que diz respeito à ampliação dos gasodutos.
Isso é que basicamente motivou o travamento do PL 414 na Câmara dos Deputados. Arthur Lira e muitos deputados do seu grupo, que têm interesse na expansão dos gasodutos, ficaram descontentes com o carimbo do Centrão colocado numa questão técnica. E a expansão do mercado livre foi colocadea em banho maria. Agora, a confusão entre as associações está formada nos bastidores e vai ser interessante acompanhar os desdobramentos desses fatos.