Maurício Corrêa, de Brasília (com informações do MME e da Eletronuclear) —
O Governo Federal, enfim, tomou a decisão que dele se esperava há muito tempo. O projeto da Usina Nuclear Angra 3 será retomado. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou, nesta quarta-feira, 1º de outubro, a resolução que determina à Eletronuclear e ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a atualização e complementação dos estudos relativos à modelagem econômico-financeira para a conclusão de Angra 3, no Rio de Janeiro.
De acordo com uma nota divulgada após a reunião do CNPE, os estudos deverão considerar, no mínimo, a manutenção dos termos do acordo com investimentos firmado entre a Eletrobras e a ENBPar, com a participação de sócio privado; a conclusão do empreendimento com recursos exclusivamente públicos (ENBPar e União); e o detalhamento do custo de abandono do projeto, com avaliação dos impactos para todas as partes envolvidas.
Angra 3 será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA). Com potência de 1.405 megawatts (a capacidade é semelhante às outras duas nucleares já em funcionamento), a nova unidade será capaz de gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora por ano, segundo a Eletronuclear. O suficiente para atender 4,5 milhões de pessoas. Deste modo, a energia nuclear passará a gerar o equivalente a 60% do consumo do estado do Rio de Janeiro e 3% do consumo do Brasil.
O Governo entende que o montante investido até agora gira em torno de R$ 8 bilhões e para concluir a usina serão necessários cerca de R$ 20 bilhões. 65% da obra já foi realizada. A usina foi paralisada em 2015.
O site “Paranoá Energia” entende que é necessário concluir a obra e acredita que o Governo está tomando a decisão correta, por mais difícil que ela possa ser considerada. Não tem qualquer sentido deixar a obra pela metade, mesmo que o custo para terminá-la seja astronômico. Calcula-se que um eventual desmonte de Angra 3, no estágio atual do projeto, deverá custar um absurdo de dinheiro. Então, absurdo por absurdo é melhor concluir a usina.
As indefinições em torno da construção de Angra 3 representam o mais perfeito exemplo de péssimo planejamento governamental. A obra foi projetada quando o Brasil já estava na lona. Mesmo assim, a insensatez que normalmente ronda os governos tomou a decisão de tocar o projeto. Um dia, por falta absoluta de recursos, Angra 3 parou de ser construída. E o projeto entrou na roda-viva das decisões orçamentárias, num momento em que o Congresso Nacional já falava mais alto e dava as cartas em questões orçamentárias.
Dentro do Congresso não faltavam ressentimentos contra os militares (o projeto nuclear nasceu durante a ditadura) e até mesmo contra a energia nuclear, pois o mundo já estava caminhando na direção de criminalizar esse tipo de energia (o que já não ocorre hoje, a não ser entre segmentos mais radicais de ambientalistas). Depois de muito tempo sem saber o que fazer com Angra 3, o projeto finalmente será retomado. Ainda tem muito chão pela frente até o eventual reinício das obras, mas o primeiro passo foi dado nesta quarta-feira.
O ministro Alexandre Silveira defendeu que a retomada das obras da Usina é fundamental para o fortalecimento do Programa Nuclear Brasileiro. “Angra 3 robustecerá o sistema integrado nacional com energia limpa, firme e de base, fortalecendo a segurança energética do país”, afirmou o ministro.