Países do Brics divergem sobre renováveis
Da Redação, de Brasília (com apoio da Agência ClimaInfo) —
Três membros fundadores do Brics — Brasil, Índia e China — continuam liderando a transição global para energia limpa, mas os países que ingressaram recentemente no bloco estão, em sua maioria, investindo em combustíveis fósseis, revela um novo relatório da Global Energy Monitor.
Brasil, Índia e China possuem algumas das maiores frotas de energia eólica e solar do mundo, todos figurando entre os cinco e sete países com maior capacidade instalada de energia eólica e solar em escala utilitária, respectivamente.
Além disso, o bloco possui mais que o dobro da capacidade de energia eólica e solar em escala utilitária em desenvolvimento — projetos anunciados ou em fases de pré-construção e construção — em comparação com combustíveis fósseis.
No entanto, os dados do Global Integrated Power Tracker também mostram que há 25 gigawatts (GW) de capacidade de carvão, petróleo e gás em construção nos países mais novos do Brics — Indonésia, Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria — contra apenas 2,3 GW de energia eólica e solar em escala utilitária em construção.
Grande parte da capacidade do setor elétrico nos novos países do Brics está sendo construída pela China, sinalizando uma oportunidade de exercer sua liderança junto aos demais membros do bloco. A nova análise mostra que 62% da capacidade total de energia em construção envolve empresas estatais chinesas, seja como fornecedoras de serviços de engenharia, suprimentos e construção, ou como financiadoras.
A participação chinesa é mais expressiva em projetos de energia hidrelétrica e carvão, representando 93% e 88% da capacidade em construção, respectivamente. Empresas chinesas estão apoiando 7,7 GW de novas usinas a carvão, praticamente todas localizadas na Indonésia, apesar da promessa do presidente Xi de encerrar o apoio a projetos de carvão no exterior.
Ao mesmo tempo, a China supera todos os outros países em apoio à energia eólica e solar nas geografias dos novos membros do Brics, sendo responsável por mais da metade da capacidade solar (947 megawatts — MW) e por quase 90% da capacidade eólica (601 MW) em construção.
Apesar do domínio geral dos combustíveis fósseis entre os novos países do Brics, a maioria dos membros sinalizou disposição para abandonar fontes de energia fósseis, evidenciando um descompasso entre suas promessas e os projetos planejados.
Atualmente, oito dos 10 novos membros declararam algum tipo de meta de emissões líquidas zero até 2050 ou 2070, e todos os cinco novos membros que utilizam carvão para geração de energia anunciaram datas para eliminar gradualmente o carvão de suas matrizes energéticas.
Fundado em 2009 por Brasil, Rússia, Índia e China, o grupo Brics de economias emergentes de grande porte passou a incluir a África do Sul em 2010. Sua composição foi novamente ampliada no início de 2024, com a entrada do Irã, Emirados Árabes Unidos (EAU), Etiópia e Egito.
Como anfitrião da presidência rotativa do bloco neste ano, o Brasil anunciou a adesão da Indonésia como membro pleno, juntamente com outros nove países que obtiveram o status de parceiros: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria.
O bloco agora representa mais de um terço do PIB global e abriga aproximadamente metade da população mundial e das emissões globais de CO₂.
James Norman, Gerente de Projetos do Global Integrated Power Tracker, afirmou:
*Os membros históricos do BRICS têm a oportunidade de demonstrar liderança e compartilhar sua experiência na transição para energia limpa com os novos membros. Em vez disso, há um risco real de levá-los por um caminho errado ao investir em carvão, gás e petróleo.”
Os dados da GEM servem como referência internacional essencial e são utilizados por entidades como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Agência Internacional de Energia (IEA), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Departamento do Tesouro dos EUA e Banco Mundial. Além disso, provedores de dados da indústria como Bloomberg Terminals e The Economist, e instituições acadêmicas como a Universidade de Oxford e a Universidade Harvard utilizam esses dados.