BC aumenta a Selic para 14,75%
O Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu a sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim de 2026, que a partir desta reunião é o horizonte relevante da política monetária. A estimativa caiu de 3,7% para 3,6% no cenário de referência, distanciando-se do teto da meta, de 4,50%
Apesar da redução, a estimativa ainda indica que a trajetória da taxa Selic embutida no relatório Focus – com alta dos juros a 15% no fim do ciclo, em junho, e com um corte de 0,25 ponto porcentual em dezembro – seria insuficiente para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%, no período de seis trimestres observado pelo Banco Central (BC).
Nesta quarta-feira, o Copom aumentou a Selic em 0,5 ponto porcentual, de 14,25% para 14,75%, seguindo a indicação deixada na reunião de março, de mais uma elevação dos juros, menor do que 1 ponto. A decisão era esperada por 56 das 59 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast. A mediana do relatório Focus apontava na mesma direção.
“A conjuntura externa, em particular os desenvolvimentos da política comercial norte-americana, e a conjuntura doméstica, em particular a política fiscal, têm impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”, destaca o comunicado do Copom, divulgado há pouco.
Desde a última reunião, de janeiro, a cotação do dólar usada pelo comitê nas suas projeções caiu de R$ 5,80 para R$ 5,70. As medianas do Focus para o IPCA de 2025 e 2026 passaram de 5,66% para 5,53%, e de 4,48% para 4,51%, respectivamente. Os preços de commodities caíram.
A projeção do Copom para o IPCA acumulado em 2025 passou de 5,1% para 4,8%, acima do teto da meta.
Todas as estimativas levam em conta a evolução da taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra (PPC), a trajetória de Selic embutida no relatório Focus e o preço do petróleo seguindo a curva futura por aproximadamente seis meses, passando a aumentar 2% ao ano posteriormente.
Também nesse cenário de referência, o Copom ajustou as suas projeções para a inflação de preços livres em 2025 (5,4% para 5,3%) e 2026 (3,5% para 3,4%). A projeção para os preços administrados passou de 4,3% para 3,5% este ano e de 4,2% para 4,0% no horizonte relevante.
Juros reais
Com a elevação de 0,5 ponto na Selic, o Brasil passou da quarta para a terceira posição no ranking dos maiores juros reais do mundo, elaborado pelo site MoneYou, com 8,65%. O País fica atrás de Turquia (10,47%) e Rússia (9,17%), e à frente de África do Sul (6,61%) e Colômbia (4,68%).
O BC calcula que a taxa real neutra de juros do Brasil – que não estimula, nem deprime a economia – é de 5,0%.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) abandonou a “assimetria altista” no seu balanço de riscos, pela primeira vez desde setembro de 2024, quando voltou a aumentar a taxa Selic.
“Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, estão mais elevados do que o usual”, afirmou o Copom, no comunicado da decisão desta quarta-feira. Agora, o colegiado vê três riscos em cada direção no balanço – antes, eram três para cima e dois para baixo.
O risco para baixo adicionado diz respeito a uma possível “redução nos preços das commodities, com efeitos desinflacionários”, segundo o comunicado.
Entre os riscos de baixa, o Copom mencionou uma eventual desaceleração doméstica mais forte. Também citou a possibilidade de desaceleração global mais forte, “decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza.”
Nos riscos de alta, o comitê citou: a desancoragem das expectativas por período mais prolongado; maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
O comitê aumentou nesta quarta-feira a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, de 14,25% para 14,75%, em linha com as expectativas do mercado. No comunicado, afirmou: “essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.”
Avaliação da Fecomércio/SP
A federação que representa os comerciantes varejistas do Estado de São Paulo, a FecomercioSP, disse em nota distribuída nesta quarta-feira, 7, que o aumento de 0,5 ponto porcentual da taxa básica de juro, a Selic, foi uma medida necessária. Com a alta promovida há pouco pelo Copom, a taxa nominal de juro da economia foi a 14,75%, a mais alta desde 2006.
“O aumento da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 0,5 ponto porcentual anunciada nesta quarta-feira (7) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), é necessário. Trata-se, antes de tudo, de uma resposta do órgão à preocupante escalada da inflação mesmo em uma conjuntura de juros já elevados”, diz a federação na nota.
Ainda, diz a nota, “dados recentes, como a escalada de preços dos serviços, não davam outra opção ao comitê. Serviços intensivos em mão de obra registram uma média móvel anual de 6% de alta, enquanto os subjacentes estão em 4,5%. Particularmente sensíveis ao nível de atividade econômica e ao aumento da renda disponível pela população, esses dois segmentos refletem como a demanda continua aquecida no País”.
Para a entidade, isso acontece porque o mercado de trabalho permanece bastante ativo, mesmo com o aumento ligeiro da taxa de desemprego na última medição do IBGE, para 7%, no trimestre encerrado em março.
“A consequência dessa conjuntura é a manutenção do consumo e da demanda por serviços, forçando o Copom a ajustar o descompasso consequente entre oferta e demanda. Ao fazer isso, o órgão ajuda a conter a inflação desse setor e, ainda, a evitar que o poder de compra da população seja afetado pela disparada dos preços. Mas não é só isso: o comitê ainda precisa lidar com o grave problema fiscal brasileiro. Na medida em que o governo não oferece sinais de que fará um ajuste mais austero das contas públicas, as dúvidas que pairam no mercado impedem que os juros caiam de forma mais acelerada e sólida”.
Por outro lado, segue a FecomercioSP, o cenário internacional vive de uma reacomodação com a guerra comercial iniciada por Donald Trump, nos Estados Unidos, ameaçando desacelerar o crescimento mundial de forma expressiva. Além dos movimentos imprevisíveis da Casa Branca, as incertezas sobre as reações da China têm gerado apreensão – e, no que diz respeito ao BC, contribuem para uma intensidade menor na subida dos juros.
“Por tudo isso, a decisão adotada nesta quarta é acertada, ao diminuir o ritmo das elevações da Selic – não mais em 1 p.p., como anteriormente -, mas mantendo o compasso de preocupação com a economia em geral. O Copom ainda atua corretamente ao oferecer credibilidade às suas ações”, diz a nota.
O que pensa a CNI
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa de juros Selic em 0,5 ponto porcentual “impõe um fardo ainda mais pesado à economia”, na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade destaca as consequências negativas da alta dos juros para o emprego, a renda e o bem-estar da população. O Copom anunciou nesta quarta-feira, 7, o aumento da Selic para 14,75% ao ano.
“Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A indústria prevê um crescimento do PIB de 2,3% neste ano, o que representaria uma queda de 1,1 ponto porcentual na comparação com 2024. A expectativa é que o setor industrial também perca ritmo, com expansão de 2% ante 3,3% do ano passado.
“Caso a estimativa se concretize, isso representaria o menor crescimento da economia nos últimos cinco anos e está diretamente relacionado à política monetária contracionista”, completa Alban.
Para a entidade, pelo menos quatro fatores deveriam ser considerados para evitar uma nova alta da taxa Selic. O primeiro, a defasagem dos efeitos da política monetária contracionista. “A materialização da alta de juros deve ser observada na totalidade a partir do segundo semestre de 2025, o que torna um novo aumento da Selic um ato precipitado, agravando a desaceleração da economia desnecessariamente”, diz a nota da CNI.
O segundo ponto, destaca, é que, com a Selic a 14,25% – patamar anterior ao aumento de hoje -, a taxa de juros real seria suficiente para controlar a inflação. “A CNI reitera que o parâmetro já superava em 3,8 pontos porcentuais a taxa de juros neutra, estimada em 5% ao ano pelo Banco Central.”
Outro ponto lembrado pela CNI é a recente política comercial dos Estados Unidos. “A imposição de novas tarifas de importação aumentou o risco de recessão nos EUA e enfraqueceu o dólar no mercado internacional. Somado à grande diferença de taxa de juros praticada no Brasil, o fato contribuiu para a valorização do real, que atingiu 8,2% entre dezembro de 2024 e abril de 2025, e reduz a pressão da taxa de câmbio sobre a inflação.”
A entidade ressalta ainda a forte desaceleração do impulso fiscal, que contribui para a moderação do consumo e favorece o controle da inflação.
