hEDGEpoint avalia combustíveis russos
Da Redação, de Brasília (com apoio da hEDGEpoint Global Markets) —
A empresa de inteligência de mercado hEDGEpoint Global Markets avaliou o momento atual do mercado internacional de combustíveis, em função das consequências da guerra na Ucrânia e avalia três impactos no mercado se a América Latina continuar aumentando as importações de combustíveis russos.
Desde a invasão da Ucrânia, os países que dependiam dos combustíveis russos pararam de importá-los e recorreram aos Estados Unidos como fornecedor alternativo. Isso tornou a América o “posto” de combustível do mundo, elevando suas exportações de combustível a níveis recordes, já que as sanções proibiram a Europa de importar os produtos refinados.
As sanções atuais impedem os EUA e a maioria das nações europeias de importar qualquer commodity energética da Rússia, exceto para alguns países devido a razões relacionadas à infraestrutura. Quando se trata de países fora dessas regiões, eles são solicitados a comprar combustível e petróleo da Rússia abaixo do preço máximo imposto às exportações russas de produtos refinados e petróleo bruto. Porém, nada garante que eles seguirão essa decisão. Nações asiáticas, africanas e latino-americanas também estão usando serviços de frete russos segurados por empresas chinesas e indianas para contornar a falta de assistência europeia.
Desde a invasão da Ucrânia, a América Latina tem visto um fluxo inusitadamente crescente de combustíveis russos, especialmente de diesel. Essa região tem capacidade para absorver quantidades significativas de combustíveis russos por ser um grande polo de consumo com déficit estrutural de destilados médios. Esses são os três prováveis impactos no mercado caso a América Latina continue aumentando suas importações de combustíveis russos, segundo análises da hEDGEpoint Global Markets:
Os exportadores da Costa do Golfo dos EUA enfrentarão maior concorrência com fornecedores russos em relação aos consumidores latino-americanos, o que pode levar a diferenciais de destilados mais baixos no PADD 3.
As refinarias americanas podem ver as margens do diesel cair estruturalmente devido ao menor interesse de compra da América Latina, sugerindo que a recuperação da demanda por petróleo bruto pós-recuperação pode ser mais fraca.
Ainda que a América Latina esteja sempre sedenta por diesel, o tamanho de seu mercado é menor que o europeu. Como resultado, as exportações russas de combustível provavelmente serão menores daqui para frente — potencialmente prejudicando a produção de petróleo do país.
De acordo com Heitor Paiva, analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets, a Costa do Golfo dos EUA tem sido historicamente o maior fornecedor de combustível para a América Latina, especialmente durante a temporada de grãos, quando a demanda de diesel de caminhões e tratores aumenta sazonalmente. Desde a invasão da Ucrânia, porém, a Rússia perdeu o acesso ao mercado do noroeste europeu, que costumava ser seu principal polo consumidor. Com isso, Moscou foi obrigada a buscar compradores alternativos, como América Latina e Ásia.
Os embarques de diesel russo para a América Latina aumentaram depois que os países europeus foram proibidos de comprar produtos da Rússia a partir de cinco de fevereiro. Isso significa que a participação de mercado das refinarias da Costa do Golfo dos EUA, especialmente para o diesel, diminuiu — em uma tendência que pode continuar, já que os preços FOB do diesel na Rússia estão muito descontados.
Se as exportações de diesel da Costa do Golfo dos EUA diminuírem para a América Latina, as margens das refinarias de óleo de aquecimento têm o potencial de buscar preços mais baixos. As consequências disso são um rendimento de destilado potencialmente menor no curto prazo, ao passo que também pode significar que a demanda por petróleo bruto de refinaria nos EUA pode ser menor caso os produtos russos continuem substituindo os americanos na América Latina.
Consequentemente, a demanda local de petróleo dos EUA pode diminuir, deixando mais disponível no curto prazo — o que é um fundamento de baixa para o WTI. Lembre-se de que as exportações americanas de diesel estão correlacionadas com as margens das refinarias, o que sugere que uma queda na demanda estrangeira pelo produto americano pode diminuir a lucratividade do norte-americano.
As exportações russas de diesel para a Europa diminuíram, o que significa que Moscou perdeu o acesso a um mercado estável, grande e fechado para produtos destilados.
Para o analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets, substituir esses volumes perdidos não será fácil, pois compradores alternativos como a América Latina e a África têm uma demanda estruturalmente menor por diesel, pois suas economias são comparativamente menos industrializadas. Isso fez com que a Rússia tentasse fazer com que países como Arábia Saudita e Turquia (Oriente Médio e Norte da África no gráfico abaixo) contrabandeassem seus produtos para mercados onde a Rússia fornecia.
“E se essa estratégia falhar? Afinal, mecanismos para evitar que esse contrabando aconteça podem ser implementados. Isso poderia significar que a Rússia teria que reduzir a atividade de refinaria, portanto, sua produção de petróleo, já que a infraestrutura de estoque do país é insuficiente”, diz Paiva.