Com Equatorial, Goiás renova as esperanças
Maurício Corrêa, de Brasília —
Chegou ao fim o sofrimento dos consumidores goianos de energia elétrica com o comando da concessionária local pela italiana Enel. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou, nesta terça-feira, 06 de dezembro, o plano de transferência de controle societário da Enel Distribuição Goiás para a Equatorial Participações e Investimentos S.A, como alternativa à extinção da concessão.
Mais uma vez, a Equatorial Energia vai viver a experiência que a faz diferente no mundo da energia elétrica. Pegará uma distribuidora quebrada, mal administrada, em dívida com os seus consumidores, e tentará aplicar a alquimia empresarial de fazer com que o limão se transforme numa limonada.
Criada em 1999, a Equatorial é uma holding controlada por fundos de investimentos da gestora Vinci Partners, que surgiu de uma dissidência de ex-sócios do Banco BTG Pactual. O foco principal da Equatorial tem sido comprar distribuidoras totalmente falidas, como a Enel Goiás, arrumar a casa e ganhar dinheiro com elas, sem deixar de atender aos interesses dos consumidores de energia elétrica. Ou seja, em poucas palavras, ser apenas uma gestora eficiente, coisa que a Enel não foi em Goiás.
A holding já fez isso com concessionárias de Alagoas, Maranhão, Pará, Piauí, Rio Grande do Sul (CEEE) e Amapá. Deu certo, o que abre uma esperança de dias melhores para a Enel Goiás e seus consumidores. A Equatorial também é dona de uma comercializadora de energia elétrica, a Sol Energias.
Augusto Miranda, presidente da Equatorial, reconheceu que assumir o comando da Enel Goiás “representa extraordinários desafios. Mas vamos enfrentar com galhardia”. A nova controladora identificou uma sobrecarga em linhas de transmissão, mas entende que a concessionária dispõe de bom quadro técnico. “Estamos preparados para assumir”, disse, frisando que a Equatorial vai transformar para melhor os serviços de distribuição no estado de Goiás. “Estamos chegando com vontade para corresponder aos anseios da sociedade”.
A chegada da Equatorial em Goiás representa, sem dúvida, um grande alívio para os consumidores locais, que sofrem há bom tempo com a péssima qualidade do serviço de distribuição de energia elétrica. Primeiramente com a então estatal estadual Celg, uma empresa que foi manipulada pelos políticos goianos de tudo quanto é jeito, tornando-se uma empresa altamente ineficiente, embora esteja situada num mercado consumidor de perfil positivo.
A Enel Goiás possui a concessão para prestar o serviço de distribuição de energia elétrica para o estado de Goiás, em 237 municípios, abrangendo uma área de 337 mil km² e uma população aproximada de 7 milhões de habitantes. Como mercado consumidor, Goiás tem boas perspectivas, pois é um estado em franco crescimento, graças ao agronegócio, sem contar o privilégio, em termos logísticos, por estar no centro geográfico do País. É para esse potencial de desenvolvimento que a Equatorial sem dúvida está olhando.
Quando em março de 2017 a então Celg foi vendida à italiana Enel, houve uma grande esperança de dias melhores no setor, em Goiás. É verdade que ninguém bota dinheiro num negócio pensando em fracassar. Também é lógico que os italianos queriam acertar a mão, só que deu tudo errado por alguma razão que só eles sabem explicar. Ficaram distantes da palavrinha mágica: eficiência.
A operação da Enel Goiás foi um péssimo negócio para os controladores italianos, que agora venderam a empresa por menos do que compraram, sem contar que enterraram muita grana na concessionária goiana. Segundo reconhece a própria Aneel, A Enel colocou na operação em Goiás a bagatela de R$ 2,2 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão em 2017, R$ 417 milhões em 2018 e R$ 589 milhões em 2020. Pouco adiantou.
Pessimamente administrada, a Enel Goiás virou uma espécie de saco sem fundo e, mesmo com toda essa injeção de dinheiro por parte dos italianos, viu a sua dívida explodir. Passou de R$ 3 bilhões, em 2017, para R$ 7 bilhões neste ano.
O chamado “Plano de Transferência de Controle Societário”, aprovado pela diretoria da Aneel, por unanimidade, é uma decisão sensata, conforme reconhece o diretor Ricardo Tili. “É uma situação que temos que escolher”, pois a abertura de nova licitação seria um processo longo e desgastante. “O preço seria pago pelo consumidor”, considerando que nesse período a empresa ficaria mais ou menos à deriva, como um barco sem rumo.
“A gente tem muito medo de criar traumas”, disse com sinceridade a diretora Agnes da Costa, recém-empossada, que participou de sua primeira reunião de diretoria já encontrando um abacaxi desse tamanho para ser descascado. ”O caminho alternativo é muito traumático”, afirmou, mas alertando que “não podemos chegar daqui a três anos e repetir”.
Para o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, “as concessionárias têm que manter o serviço em ponto alto. Ainda que a Enel não tenha cumprido as suas metas, em quatro anos melhorou o serviço para os consumidores. Mas descumpriu o DEC (índice que mede a duração das interrupções de serviço) em 2021 e certamente descumpriria em 2022. O nosso voto olha para o interesse público”. Ele lembrou que a Equatorial alcançou sucesso em outras concessões com níveis piores. Na sua visão, a Equatorial está em condições de reverter o quadro hoje existente na concessionária de Goiás.
No primeiro ano da Equatorial à frente da empresa, a fiscalização terá um caráter orientativo, ou seja, não estará voltada para a aplicação de multas. Mas a agência reguladora mantém o monitoramento sobre a concessionária, para não deixar o caldo entornar novamente.
O diretor Hélvio Neves Guerra explicou que a Equatorial está se comprometendo a efetuar um investimento anual em Goiás da ordem de R$ 1,2 bilhão até 2027. Como reconheceu, a questão do DEC no estado é crítica e só em 2028 a Equatorial deverá alcançar o indicador fixado para 2022.