Sachsida quer apoio dos bancos para SEB
Maurício Corrêa, de Brasília —
É possível que ao assumir o Ministério de Minas e Energia, o ministro Adolfo Sachsida entendesse da área pouco mais do que acender e apagar a luz da sua casa. Mas, ao contrário de outras figuras que passaram pela Pasta, como o falecido Rodolpho Tourinho e a fantástica Dilma Rousseff, que não entendiam nada tecnicamente, mas apreciavam se intrometer em tudo e meter os pés pelas mãos, gerando enorme confusão, Sachsida é um ministro que deixa a equipe técnica tocar o serviço e se preocupa com o atacado.
Em compensação, Sachsida tem mostrado que é um ministro de ideias. E de boas ideias, revelando que não é fundamental ser formado em Engenharia Elétrica, Petróleo & Gás ou Geologia para ocupar o posto atual. Basta ter interesse e bom senso. O fato de ter sido do alto escalão do Ministério da Economia, com uma visão mais ampla dos problemas nacionais, ajuda bastante neste caso. Nesta quinta-feira, durante um evento de premiação de distribuidoras, em Brasília, ele deu uma dica do que poderá vir por aí.
Adolfo Sachsida está convencido que decisões recentemente tomadas pelo Congresso Nacional, a partir de iniciativas do presidente da República, e que tiveram as impressões digitais do atual ministro, são apenas a “ponta de um iceberg”. Com entusiasmo, ele alega que aquilo que foi visto de modo minimalista só como uma proposta com fins eleitoreiros visando a diminuir os gastos dos consumidores com energia elétrica e combustíveis, é algo mais grandioso, que terá implicações permanentes e mais profundas na economia brasileira.
“O projeto que reduz o ICMS (de energia elétrica e combustíveis) não é só quebra do preço. O preço é uma consequência. Dá para imaginar o que representam 30% de ICMS sobre combustíveis e energia”?, ele pergunta e ele mesmo responde. No seu entendimento, com a economia que a área empresarial já está fazendo será possível contratar mais mão-de-obra e produzir o que ele classifica como “um dos maiores choques de produtividade da sociedade brasileira”.
Para Sachsida, o Governo tomou a decisão no momento certo, quando a arrecadação fiscal está em alta e é possível devolver uma parte desse tributo não planejado para a população, através da redução dos preços na área de energia. O ministro lembrou que a inflação brasileira, neste ano, ficará em torno de 7,5%, abaixo de países que tradicionalmente sempre tiveram inflações reduzidas, como Alemanha e Estados Unidos.
Aos participantes do evento, o ministro de Minas e Energia disse que o seu discurso era apenas uma “pequena e rápida reflexão” sobre o momento atual do Brasil. Ele lembrou que o atual Governo tem sido premiado com um contexto de pouca sorte, como o desastre ambiental em Brumadinho, em 2019, o início da pandemia de Covid-19 no ano seguinte, a maior crise hídrica em 90 anos em 2021 e uma guerra aberta de grandes proporções no coração da Europa a partir de 24 de fevereiro deste ano.
Segundo ele, apesar de todas as dificuldades o Brasil tem administrado essas questões com serenidade e competência, aproveitando o momento. “Com mais investimento privado, teremos mais emprego e renda”, disse o ministro.
Nesse sentido, Sachsida pretende nos próximos dias abrir uma nova frente de debates, dentro da sua ideia macro de injetar mais eficiência na economia. “O setor de energia vai crescer e muito”, garantiu, desde que seja oferecido algo que o MME tem procurado aplicar, que é tornar os marcos legais mais claros, com consequente segurança jurídica adequada para os agentes econômicos.
“É assim que se melhora um país. O consumidor virá sempre em primeiro lugar”, assinalou, lembrando que o MME recém-abriu uma consulta pública para ampliar um pouco mais o mercado livre de energia elétrica, o que deverá resultar em tarifas mais baratas para os consumidores e consequentemente mais eficiência na economia.
Nesse contexto, ele vai iniciar uma interlocução com o sistema bancário, para que a área de energia elétrica receba o mesmo apoio financeiro que os bancos oferecem ao agronegócio. Para Sachsida, as premissas são claras: a economia vai crescer e o setor elétrico (que vai precisar de dinheiro mais barato para se financiar) vai crescer junto.
Se os bancos ficarem espertos e entenderem esse processo, poderão ter na outra ponto de negócio bons tomadores de empréstimos, oferecendo garantias de sobra para a área financeira. Sachsida não duvida que este será um jogo de ganha-ganha, desde que a área bancária tenha sensibilidade para entender o negócio de energia elétrica.
“A mineração, o segmento de petróleo e gás e a energia elétrica têm que caminhar juntos. E têm que receber dos bancos a mesma atenção que eles dão ao agro”, afirmou.
No evento da Abradee, ele pediu a colaboração da área empresarial para que haja uma mudança legal que tipifique o roubo de energia elétrica (mais conhecido como gato) como um crime. Essa é uma prática utilizada em larga escala em todo o País, por consumidores de todos os tipos, mas principalmente em áreas ocupadas por população mais carente, gerando prejuízos para as empresas. No final, os consumidores como um todo acabam pagando por essa prática indevida, que Sachsida classifica como “um risco para a sociedade”.