Da Redação, de Brasília (com apoio da ABcip) —
A iluminação pública no Brasil está passando por uma transformação profunda, deixando de ser apenas um serviço básico para as cidades e se tornando uma plataforma tecnológica multifuncional fundamental para o desenvolvimento das chamadas cidades inteligentes.
Dados recentes da Associação Brasileira das Concessionárias de Iluminação Pública (ABCIP) indicam um crescimento expressivo no número de contratos de concessão, que passaram de 17 em 2019 para 146 em 2025, e um salto de 287 para 812 nas parcerias público-privadas (PPPs) para o setor, especialmente em Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Paulo Candura, CEO da Luz Urbana e ex-diretor do Departamento de Iluminação Pública da Prefeitura de São Paulo, que vem liderando iniciativas inovadoras no setor, conhece bem o assunto.
“A iluminação pública deixou de ser apenas iluminar vias”, explica Candura. “Agora, agrega funções como a iluminação de edifícios históricos, espaços de lazer, também com foco em segurança, e tem papel importante no embelezamento da cidade por meio da luz.” Ele ressalta que cada luminária pode ser transformada em “uma antena que trafega dados com múltiplas funções”, tornando-se a base para a infraestrutura digital urbana.
Candura destaca que a grande extensão territorial do Brasil impõe desafios à oferta de serviços essenciais, como a iluminação. “Não há outra saída que não seja a educação”, afirma, defendendo a realização de cursos e eventos, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte para preparar a população para essa transformação.
Perguntado sobre os principais desafios para a criação de cidades inteligentes, o especialista afirma que cabe aos municípios entenderem o conceito e terem a infraestrutura e o material humano adequados para sua implementação. “A iluminação urbana é o serviço público mais capilar de um município e, portanto, é estruturante para essas cidades.”
Na prática, os postes de iluminação agora podem ser equipados com sensores diversos — para videomonitoramento, controle de estacionamento, contagem de tráfego, controle semafórico, detecção de ruídos, monitoramento da qualidade do ar e gestão de resíduos — integrados a um centro de controle operacional que permite uma gestão eficiente e multifuncional.
O avanço das PPPs mostra essa evolução: inicialmente focadas exclusivamente em iluminação, hoje muitas incorporam o conceito de cidades inteligentes e mesmo projetos exclusivos para essas soluções estão surgindo, sobretudo em cidades maiores e pequenas, via consórcios intermunicipais.
Sobre o desafio da energia no Brasil, com problemas recentes na geração e distribuição elétrica, Candura observa que “as PPPs de iluminação têm proporcionado uma redução de consumo em média superior a 50%”, o que ajuda a aliviar a capacidade da rede nas horas de pico.
O potencial de investimento é grande: segundo Candura, já há contratos bilionários, e até 2025 as concessões cobrem cerca de 30% da população brasileira e 20% do parque público, “um mercado em crescimento e com oportunidades para municípios de todos os portes”.
Exemplos como Goiânia e Belo Horizonte demonstram o potencial da iluminação pública para construir cidades inteligentes: Goiânia, por exemplo, integra iluminação com energia solar, câmeras e Wi-Fi via PPP, com investimento mensal de R$ 4,7 milhões, enquanto Belo Horizonte mantém uma PPP há 10 anos com contraprestação mensal de R$ 9,7 milhões.
Além de eficiência e sustentabilidade, a iluminação pública moderna também tem papel social relevante, promovendo inclusão, acessibilidade e justiça urbana, garantindo que todas as populações tenham direito à cidade.
Assim, a iluminação pública assume papel determinante na transformação digital e melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras, configurando-se como a porta de entrada para um futuro urbano mais conectado, seguro e inteligente.
Estes e outros temas que movimentam o setor serão destaque no Simpósio Internacional de Iluminação Pública e Cidades Inteligentes (Siipe), a se realizar em Salvador, nos dias 11 e 12 de novembro próximo. O evento vem se consolidando, desde 2009, como um dos principais encontros do país nessa modalidade.