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EUA abrem investigação contra Brasil

O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos iniciou uma investigação sobre o Brasil, nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, de acordo com comunicado distribuído pelo departamento na noite desta terça ,15.

A investigação buscará determinar se atos, políticas e práticas do governo brasileiro são irracionais ou discriminatórios e oneram ou restringem o comércio dos EUA, diz o documento.

Entre os focos da investigação estão o comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, a interferência anticorrupção e a proteção da propriedade intelectual.

Outro ponto que será investigado é o acesso ao mercado de etanol A investigação também abordará a questão do desmatamento ilegal.

Pesquisa Quaest sobre tarifaço de Trump

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 16, aponta que a maioria dos brasileiros discorda das justificativas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o anúncio de tarifaço contra os produtos nacionais importados. Para 72% dos entrevistados, Trump está errado ao impor as novas taxas sob o argumento de que há perseguição judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apenas 19% acreditam que ele está certo.

O levantamento também mostra que 57% dos brasileiros pensam que o presidente norte-americano não tem o direito de criticar o processo em que o capitão reformado é réu no Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto 36% consideram legítima a manifestação do republicano. Para 63%, a afirmação de Trump de que a relação comercial entre os países é injusta está incorreta, enquanto 25% avaliam como correta.

Além da rejeição política ao tarifaço, a percepção econômica também é majoritariamente negativa. Segundo a pesquisa, 79% afirmam que as novas tarifas terão impacto direto em suas vidas, prejudicando o bolso do consumidor brasileiro. Nesse sentido, a reação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com base na reciprocidade é apoiada pela maioria da população: 53% concordam com a estratégia de retaliar com medidas equivalentes às tarifas de Trump, contra 39% que desaprovam.

No entanto, Lula também é responsabilizado por provocar Trump ao criticá-lo no encontro dos Brics no dia 7 de julho por 55% dos entrevistados, ante 31% que negam. Sobre as razões para a adoção das tarifas, a opinião pública se divide: 26% atribuem a medida ao discurso de Lula durante a cúpula do Brics e 22% às ações do STF contra Bolsonaro. Logo atrás, estão os 17% que acreditam que foi a influência do ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) nos EUA e os 10% que consideram as ações do Supremo contra as big techs norte-americanas.

A percepção de que o atual presidente é responsável é maior entre os bolsonaristas (44%) e quem não é bolsonarista e se posiciona mais à direita (40%). Enquanto isso, os petistas e os mais à esquerda atribuem a responsabilidade ao ex-presidente e seu filho.

Há ainda uma pergunta feita pelo instituto sobre qual lado político estaria “mais certo” em relação ao embate entre Trump e o Brasil. Para 44%, o presidente Lula e o PT estão atuando mais corretamente, ao passo que 29% apontam Bolsonaro e seus aliados. Já 15% dizem que nenhum dos dois está agindo bem.

A pesquisa ouviu 2.004 pessoas de 120 municípios entre os dias 10 e 14 de julho. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, com 95% de nível de confiança.

Empresariado se reúne com Governo e Tarcísio

O governo federal passou esta terça-feira, 15, em reuniões com empresários e representantes da indústria e do agronegócio para tentar encontrar uma resposta conjunta para a ameaça do presidente americano Donald Trump de impor uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros. O número de pessoas presentes às duas reuniões comandadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin pode dar uma ideia de como esse tema preocupa os empresários: foram quase 40 representantes de diversos setores, do presidente da Fiesp, Josué Gomes, ao presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, passando pelas associações de produtores de café, laranja e dos exportadores de carne.

O que ficou claro nas conversas é que o Brasil não tem saída a não ser tentar negociar. Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio, afirmou que o governo ainda busca flexibilizar o prazo determinado pelo governo dos Estados Unidos, de 1.º de agosto, para taxar as exportações brasileiras. “O prazo é exíguo, mas vamos trabalhar para dar o máximo nesse prazo”, disse após a primeira reunião com representantes do setor produtivo, pela manhã.

A proposta do empresariado é que o governo trabalhe para conseguir pelo menos mais 90 dias de discussão. De acordo com o vice-presidente, os empresários brasileiros farão parte da tentativa de pressão por maior prazo. Mas, segundo ele, a ideia é procurar resolver tudo até o dia 31 de julho. “Então, o governo vai trabalhar para tentar resolver e avançar nesse trabalho nos próximos dias”, disse, à tarde.

No entanto, está claro também que não será fácil para o governo convencer Trump a voltar atrás com argumentos convencionais. Os Estados Unidos são superavitários em sua relação comercial com o Brasil – ou seja, vendem mais do que compram. Além disso, o presidente americano já deixou explícito que esse movimento de retaliação não é comercial, mas político.

Quando anunciou a tarifa de 50%, na semana passada, Trump relacionou a taxação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, que classificou como “caça às bruxas”. Ontem, em entrevista do lado de fora da Casa Branca, voltou a defender o ex-presidente. “Ele não é um homem desonesto.” Sobre o motivo de a taxa brasileira ser a maior até agora anunciada, foi mais vago. “(Taxei) Porque eu posso fazer isso”, disse.

Trump usa as tarifas como um instrumento de pressão para que o julgamento de Bolsonaro seja encerrado, sem punição. O governo brasileiro não cogita nenhuma ação nesse sentido – nem poderia, já que seria uma intromissão do Poder Executivo no Poder Judiciário.

Tarifas recíprocas

O tom das conversas dos empresários com o governo na reunião de ontem em Brasília era de cautela. Três executivos que estavam no encontro da manhã – com o setor industrial – afirmaram que há consenso de que o ideal é seguir buscando diplomacia, ainda que a ofensiva passe a valer a partir de 1.º de agosto.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, disse que outro consenso que ampara a cautela mesmo após o prazo é de que não há, para a indústria, possibilidade de vender para outros lugares os produtos que atualmente são vendidos para os americanos. “Se nós perdemos a exportação para os Estados Unidos, não tem como substituir com exportações para outros mercados.”

Ainda conforme Velloso, diante das considerações e pedido de cautela, a reunião não chegou a abordar possibilidades de retaliação. “Não foi falado em momento algum, nem pela parte privada nem pelo governo. Nada em relação à retaliação. O objetivo parece unânime ali. De negociar à exaustão.”

Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, disse que esse nível de tarifa pode ter um impacto de cerca de R$ 50 milhões por avião. Com isso, os efeitos nas receitas da fabricante seriam próximos a R$ 2 bilhões em 2025 e de R$ 20 bilhões até 2030. “A taxa de 50% é praticamente um embargo. Esse patamar inviabilizaria as operações da Embraer nos EUA.”

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Perosa – que participou da reunião de Alckmin com os representantes do agronegócio, à tarde -, também afirmou que a tarifa de 50% inviabiliza as vendas para o mercado americano. Segundo ele, já há frigoríficos paralisando a produção de carne destinada aos EUA. “Nossa sugestão de imediato é, se possível, uma prorrogação do início dessa taxação porque existem contratos em andamento e não há tempo hábil de desfazê-los.”

Encontro em SP

Ao mesmo tempo que o governo federal juntava empresários em Brasília, o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) fez um movimento parecido em São Paulo. O encontro contou com a presença do encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar, e foi lido por muitos como uma tentativa de disputar o protagonismo em meio à crise – Tarcísio é apontado como potencial candidato à Presidência em 2026.

Entre os presentes estavam Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e o diretor administrativo da Indusparquet, José Antônio Baggio, além de representantes da Embraer, da Usiminas, da Cosan e de outras 13 empresas ou associações de setores como café, máquinas, carne, citricultura, energia, papel e celulose, madeira, transporte de cargas e setor sucroalcooleiro.

Em nota divulgada horas após a reunião, o governo de São Paulo reforçou “seu compromisso com o produtor, empresários e agronegócio paulista”.

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