Silveira levou 1 ano e 7 meses para entender que o “curtailment” era prioridade. Criou um GT
No dia 15 de agosto de 2023, um apagão deixou sem energia elétrica cerca de 29 milhões de pessoas em vários estados brasileiros.
Imediatamente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (que tem a responsabilidade de não deixar faltar luz) entendeu que era necessário cortar energia da rede, pois era impossível controlar os fluxos da energia gerada por usinas eólicas e solares. Elas não respondiam aos controles da Operação.
De repente, o País praticamente descobriu um termo técnico que era conhecido apenas por especialistas: o “curtailment” ou “constrained-off”, que significam a existência de restrições operativas por parte do Operador do Sistema, para impedir que mais energia seja jogada na rede, pressionando a Operação, equilibrar as coisas e evitar novos apagões.
Nesta quinta-feira pós-Carnaval, dia 06 de março, um ano e sete meses depois do apagão em que se constatou a necessidade do “curtailment”, o Governo finalmente se mexeu e decidiu criar um GT para tratar do assunto. É a manchete de hoje do site “Paranoá Energia”.
É verdade que a questão é tecnicamente complexa. No alto comando do ONS, o problema é visto como meramente empresarial, pois trata-se de risco do negócio. Mas, segundo um estudo da consultoria Volt Robotics, o prejuízo acumulado dos geradores que operam nesse segmento de renováveis alcançou a soma de R$ 1,6 bilhão no ano passado, face às restrições operativas determinadas pelo ONS. De alguma forma ou de outra, 1.445 usinas foram afetadas por essas restrições.
É muita grana que fugiu pelo ralo. Difícil explicar para os acionistas controladores, principalmente aqueles que estão lá fora, não conhecem o Brasil muito bem, e acreditaram nas palavras dos governantes que o capital aqui é bem-vindo e há garantias jurídicas. Para este site, não há dúvida: as restrições operativas são uma mudança inesperada das regras do jogo e as empresas estão arcando com prejuízos que só existem porque o planejamento do Governo é totalmente furado. Usinas são erguidas ao custo de uma grana torta, onde não existem linhas para escoar a geração. É uma brincadeira que custa caro.
Bem, todas essas questões serão amplamente discutidas no GT, cujo responsável será Gentil Nogueira de Sá Júnior, secretário-nacional de Energia Elétrica do MME.
Dois comentários adicionais bem rápidos. O primeiro é mostrar a perplexidade deste editor com o fato que o Ministério de Minas e Energia levou um ano e sete meses, desde o apagão de 15 de agosto de 2023, para tomar a decisão de criar o grupo de trabalho. Isso é extraordinário.
Enquanto as empresas estavam engavetando pesados prejuízos, o MME permaneceu incrivelmente paralisado em relação ao assunto, deixando o tempo correr. Só agora, quase R$ 2 bilhões de reais de prejuízos somados pelas geradoras eólicas e solares, o MME rompeu o imobilismo e resolveu criar o GT.
Essa lentidão a passo de tartaruga é uma espécie de fotografia da gestão do ministro Alexandre Silveira, que nunca viu prioridade nessa questão. Se tivesse visto, o GT já tinha saído bem antes.
O segundo comentário diz respeito à figura do coordenador do GT, Gentil Nogueira de Sá Júnior, secretário-nacional de Energia Elétrica do MME.
A equipe atual do MME de um modo geral é fraca (o ministro nunca soube escolher bem os seus auxiliares), mas Gentil Nogueira de Sá Júnior é uma rara exceção. Há outras exceções, mas não são muitas. É praticamente quem carrega o ministério nas costas, junto com o secretário-executivo adjunto, Fernando Colli Munhoz. Eles não podem ser responsabilizados pelas trapalhadas que ocorrem na gestão do ministro Silveira, mas devem receber, sim, todo o crédito pelo que acontece de bom. São servidores preparados, disciplinados e trabalhadores. Sem o trabalho deles, se desdobrando para fazer alguma coisa acontecer, teria sido muito pior.