Resista, Sandoval
Maurício Corrêa, de Brasília —
Como todos os partidos políticos brasileliros, o PT convive com aspectos negativos e positivos. Aqui não é o espaço para elencar essas características do PT, mas os partidos são como as pessoas: têm altos e baixos.
O “Paranoá Energia”, entretanto, gostaria de se concentrar em um aspecto do partido, que historicamente apresenta enorme dificuldade para conviver com as agências reguladoras, surgidas na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, na reforma do Estado dos anos 90.
O PT se incomoda com as agências. Não entende que elas são órgãos do Estado e não do Governo. Sofre com a autonomia das agências e sempre quis, enquanto Poder, que elas ficassem quietinhas e obedientes, como boas crianças, sob o comando de dirigentes petistas, portanto sob o guarda-chuva do PT, que, afinal, é onisciente e onipresente e sabe de tudo. O PT se considera possuidor da verdade do mundo. E não é.
É só ver o que acontece com o atual presidente do Banco Central, que é a agência reguladora do setor bancário. O PT não esconde que não tolera a autonomia o BC. Talvez nem o próprio presidente Bolsonaro, que tomou a iniciativa, tenha uma ideia precisa a respeito da independência do BC. É provavelmente a decisão mais importante tomada na sua caótica gestão.
O atual presidente da República diariamente discursa contra o presidente do BC e lamenta que o seu mandato só terminará em 2024. Neste caso, o PT tem saudade da manipulação das taxas de juros praticadas durante a gestão da presidente Dilma.
Já no primeiro período do presidente Lula, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, antes de mostrar a sua preferência por iniciativas pouco éticas, como o Mensalão, chegou a coordenar um pacote contra as agências. Não foi prá frente.
Agora, o PT volta aos métodos de sempre, insinuando, através da mídia, que é necessário rever a questão dos mandatos das agências reguladoras. Um dos seus alvos é o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, eleito em agosto de 2022 e que, portanto, ainda têm um bom chão pela frente com mandato garantido.
É sempre a mesma conversinha. Através do Congresso, o partido começa a detonar os dirigentes de agências, que são possuidores de mandatos. O presidente e seus principais auxiliares vão para a mídia para reforçar a paulada. Jornalistas próximos ao partido compram a ideia e abrem espaços para essa estratégia golpista. Quando possível, o PT usa alguns artifícios institucionais, tipo TCU, para virar o jogo. Não é segredo que o TCU é controlado por forças políticas íntimas do PT. E por aí, vai.
É importante que o diretor-geral da Aneel resista à pressão e não entregue o seu mandato de graça para o PT. Sandoval Feitosa é um bom presidente, que cumpre as suas obrigações corretamente. Se o partido não gosta dele por algum motivo ou porque precisa arrumar um emprego de alto nível para os seus puxa-sacos, é problema do PT.
Em outras gestões, o PT fez isso. Colocou seus disciplinados militantes para controlar a Aneel, que, naquele período se transformou num mero apêndice do Ministério de Minas e Energia. Foi um dos momentos mais lamentáveis da rica história da Aneel. O PT quer fazer isto de novo, mas é preciso primeiro detonar o atual presidente.
Este site, como todo mundo sabe, não gosta muito de se envolver na política partidária. Este editor, particularmente, não tem muito apreço pelo mundo político em geral, de todas as tendências. Mas, neste caso, não tem como. Questões políticas podem minar o mandato do diretor-geral da Aneel e isso não passa de uma sacanagem da pesada.
O editor do “Paranoá Energia” conhece o diretor-geral da Aneel apenas profissionalmente. Então, com muita tranquilidade, pode dizer: resista, Sandoval. Não se deixe impressionar pelo rolo compressor do PT. Faca como o presidente do BC e resista à pressão. O mandato é seu e ninguém pode tirá-lo da função. Só depende de você. Resista.