Paraguai atrai brasileiros com energia barata
Maurício Corrêa, de Foz do Iguaçu (PR) —
De 104 maquiladoras que se instalaram no Paraguai, depois que o governo alterou as normas e passou a atrair empresas utilizando como poder de convencimento principalmente o preço da energia elétrica, 80 eram originalmente brasileiras, segundo admitiu o diretor-geral paraguaio da Itaipu Binacional, James Spalding. “O Paraguai vive um ótimo momento econômico e as empresas estão aproveitando as oportunidades abertas pelo País”, afirmou ao site “Paranoá Energia”.
Nesta terça-feira, ele participou, em Foz do Iguaçu, da cerimônia de inauguração do Centro de Inovação em Mobilidade Elétrica Sustentável (CI-MES), organizado pela binacional, com as presenças de autoridades de ambos os países que controlam a gigantesca usina. Em um ambiente marcado pela diplomacia, Spalding argumentou que “nós, do Paraguai, não estamos interessados em atrair empresas brasileiras para prejudicar o Brasil, que é nosso parceiro e amigo. Ao contrário, estamos convencidos que o nosso jogo se caracteriza pelo ganha-ganha”, ou seja, os dois países saem lucrando com a ida de empresários brasileiros para o outro lado da fronteira. Na sua avaliação, a produção, no Paraguai, permite que os fornecedores, no Brasil, possam aumentar o ritmo de produção, gerando, aqui, empregos, renda e tributos.
Como ilustrou, existe muita convergência entre a macroeconomia atual aplicada tanto pelo Paraguai quanto pelo Brasil. “O próprio Banco Mundial já informou que o Paraguai será o país do continente que apresentará o melhor crescimento neste ano, com perspectiva de alcançarmos algo em torno de 4,5%. No Brasil também se observa uma grande recuperação da economia, com baixíssima inflação e comércio exterior amplamente superavitário. É verdade que os números do mercado de trabalho ainda apresentam um grande desemprego, mas já existe uma recuperação na ocupação da mão-de-obra. Nesse contexto, pode-se dizer que o Brasil já começou a sair da recessão, o que é muito bom”, disse Spalding.
No seu raciocínio, é importante que os dois países — que dividem o controle sobre a usina de Itaipu e têm na hidrelétrica o farol que indica o caminho na relação bilateral — estejam bem, sob o ponto de vista da economia, para usufruir dos benefícios desse jogo de ganha-ganha.
Algumas empresas brasileiras foram e estão indo para o Paraguai atraídos principalmente por dois aspectos fundamentais na composição do custo: a energia elétrica no país vizinho é muito mais barata, bem como a mão-de-obra. Porém, não se trata disso. Afinal, o Paraguai também é um país que tributa bem menos do que o Brasil e também conta com uma tecnocracia jovem e bem preparada.
Durante décadas, o Paraguai foi considerado uma espécie de primo pobre dos demais países da América do Sul e motivo de piadas dos vizinhos brasileiros. Mas quem ainda pensa assim está totalmente equivocado. O país experimenta um forte crescimento econômico, baseado principalmente pelo desenvolvimento do setor agroindustrial, que, em muitos aspectos, se parece até com o Brasil. E além disso o Paraguai dispõe em larga escala da energia elétrica produzida em conjunto com o Brasil, que, hoje, supre 80% das suas necessidades. O Paraguai também é sócio da Argentina em uma hidrelétrica chamada Yaceretá.
Até 50 anos atrás, de fato, o Paraguai era muito pobre, principalmente porque a energia elétrica era produzida por pequenas térmicas que tinham a madeira e o óleo como combustível. Entretanto, esse cenário desolador começou a mudar rapidamente a partir do momento em que o Paraguai começou a receber a energia de Itaipu. O tratado que conduz a binacional completará 50 anos em 2023 e a grande incógnita consiste nos termos em que será renegociado. Com as limitações do seu próprio mercado, o Paraguai hoje vende de volta para o Brasil parte substancial da sua própria cota de energia.
Ninguém abre o jogo neste momento, pois ainda é prematuro, mas obviamente interessa ao Brasil ficar com o máximo possível da cota do Paraguai, a partir de 2023, enquanto os paraguaios querem naturalmente mais poder de decisão sobre o que fazer com a sua parte da energia gerada pela binacional. Inclusive até vender para outro vizinho ávido por energia, que é a Argentina, se for o caso.
Enquanto faltam cinco anos para o término da vigência do atual contrato, as peças vão se movendo lentamente ao sabor da diplomacia que une Brasil e Paraguai, como ficou claro na cerimônia realizada em Foz do Iguaçu.
A farta e barata energia elétrica existente no Paraguai baliza realmente a atração sobre empresários brasileiros. Afinal, enquanto a energia elétrica no Brasil é considerada pelos governos estaduais uma espécie de galinha dos ovos de ouro e que por isso taxam fortemente as contas de luz (os tributos e encargos representam algo em torno de 51% no Brasil), no país vizinho a realidade tributária é completamente diferente, pois o Paraguai tem uma economia liberal, de pouca intervenção governamental. Consequentemente, a pressão do Estado sobre os bolsos das pessoas ou dos cofres das empresas é muito menor do que no Brasil.
Com 400 mil quilômetros quadrados de área territorial e uma população de 7 milhões de habitantes, o Paraguai tem uma densidade demográfica muito baixa e, ao mesmo tempo, enorme potencial de desenvolvimento, mesmo sendo um país que tributa pouco, quando em comparação com o seu vizinho gigantesco chamado Brasil.
Isso ficou muito claro para este repórter, nesta segunda-feira, no aeroporto de Campinas, enquanto aguardava o vôo para Foz do Iguaçu. Uma conversa com um jovem empresário brasileiro, que também aguardava o embarque, ilustra bem o poder de atração que o Paraguai exerce com a sua energia disponível e muito mais barata do que no Brasil. Possuidor de uma fábrica de produtos plásticos no interior de São Paulo, ele disse que estava indo para Hernandarias, a poucos quilômetros de Foz do Iguaçu, pois tem planos imediatos de fechar a sua indústria, no Brasil, e reabrí-la no Paraguai.
“Ninguém aguenta mais o Brasil, com tanta ineficiência, corrupção e, principalmente, carga tributária elevadíssima. Temos que reduzir o tamanho do Estado, para poder diminuir a carga tributária, mas nenhum partido, nenhuma liderança política, ninguém está interessado efetivamente nisto. Fica só no discurso. Na verdade, ninguém aguenta mais o Brasil e estou indo para o Paraguai. Vou levar a minha fábrica para lá sem qualquer constrangimento”, disse o empresário.