Fazenda solar pronta para operar em João Pinheiro (MG)
Maurício Corrêa, de Brasília —
O segmento das energias renováveis continua oferecendo bons exemplos em termos de inovação no setor elétrico. Depois da inauguração, há pouco mais de um ano, da Coober — primeira usina solar construída na modalidade de cooperativa, que entrou em operação na cidade paraense de Paragominas — a Empresa Brasileira de Energia Solar (Ebes) prepara-se agora para iniciar a comercialização de blocos de energia gerada por uma fazenda solar com capacidade instalada de 1 MW.
A usina está pronta e foi implantada no município mineiro de João Pinheiro, na rodovia federal BR 040, a 340 km de distância de Brasília e a 400 km de Belo Horizonte. A Ebes arrendou as terras da fazenda por um período de longo prazo e, segundo explicou o diretor da empresa, engenheiro Rodolfo Molinari Filho, a localização em João Pinheiro se explica pelas excepcionais condições de duração e intensidade da luz solar que atinge a região.
A Ebes é uma empresa que já está no mercado desde 2010, mas o seu foco inicial era constituído de projetos de engenharia que envolvessem a instalação de painéis solares. Depois que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) alterou a Resolução 482, ao final de 2015, permitindo a instalação de micro ou minigeração em local diferente da unidade consumidora, a Ebes enxergou um nicho de mercado que poderia ser explorado, permitindo a sua expansão.
As mudanças na 482 permitem que a geração distribuída possa se efetivar através da geração compartilhada, por meio de consórcio ou de cooperativas, composta por pessoas físicas ou jurídicas. No caso da Coober, que é uma cooperativa, são pessoas físicas. Mas, no caso da fazenda solar da Ebes, que vai explorar a modalidade de consórcio, serão beneficiadas pessoas jurídicas.
A Ebes representa um investimento de R$ 5,5 milhões, utilizando 4 mil placas fotovoltaicas produzidas pela Canadian Solar, numa área total de quase 3 hectares. Dentro de pouco tempo, conforme revelou Rodolfo Molinari Filho, a empresa vai iniciar uma expansão que a transformará numa fazenda-usina com capacidade de 5 MW de geração solar.
Os planos da Ebes são mais ambiciosos. Molinari não só acredita na retomada da economia brasileira, mas, também, na identificação correta do nicho potencial de clientes, representado por indústrias ou comércios com base em serviços. “Estamos trabalhando com um planejamento para construir 100 usinas de 5 MW, nos próximos três anos, pois acreditamos que esse modelo de comercialização permitirá uma ampla massificação da energia solar no Brasil”, afirmou o diretor da Ebes ao site “Paranoá Energia”.
A empresa tem bala na agulha para bancar os investimentos e pretende se transformar, por volta de 2020, na principal da categoria no País. Dois grandes fundos de investimentos têm forte presença societária na Ebes e acreditam no seu potencial de crescimento: o o americano TPG Art e o brasileiríssimo Mov.
O Mov é uma gestora nacional de investimentos de impacto, que coloca seus recursos em empresas não só inovadoras e cujas atividades se traduzam em retorno, mas, também, que promovam o uso sustentável dos recursos naturais ou então que ofereçam oportunidades às pessoas menos favorecidas.
Quanto ao Texas Pacific Group (TPG) é um gigante global, responsável pelo gerenciamento de ativos no montante aproximado de US$ 72 bilhões, com 16 escritórios espalhados pelo mundo e recursos aplicados em variados campos da economia. Nas empresas que atuam permanente ou eventualmente no Brasil, o TPG, por exemplo, está presente, entre outras empresas, no capital da Azul, Burger King, Airbnb, Cirque de Soleil, Advent e na Cushman & Wakefield, uma grande companhia do ramo imobiliário, com forte atuação na construção e comercialização de prédios principalmente localizados no Itaim e Vila Olímpia, na cidade de São Paulo.
Molinari tem apenas 32 anos de idade e é um graduado em Engenharia Civil, com mestrado na área de Energias Renováveis na Unicamp. Hoje, ele ainda divide as suas atividades na Ebes com as funções de conselheiro da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e diretor da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).
“Estamos animados com as perspectivas, pois a Ebes dispõe de capacidade para novos investimentos e ampliação do negócio”, garantiu Molinari, salientando que a opção por João Pinheiro também deriva do fato de o município estar na área de concessão da Cemig, que tem uma tarifa muita alta se comparada com outros estados. “Esse é um diferencial importante. Afinal, a empresa que se transformar em cliente da fazenda solar virá para o nosso negócio numa ação que combinará não apenas o interesse no uso de energia limpa, mas, também, pelo fato de que o custo será inferior ao da energia da concessionária atual”, assinalou.
Nesta primeira fase, com capacidade instalada de 1 MW, a Ebes pretende atingir um portfólio de 100 a 150 clientes, através de um modelo de assinatura, ou seja, sem qualquer necessidade de investimento, proporcionando economia imediata e acessível a qualquer consumidor comercial.
Sob determinados aspectos, o negócio, em termo operacionais, é de enorme simplicidade. Na fazenda, foi instalada uma usina solar, que gera energia limpa. Essa energia é conduzida pela distribuidora de energia local (a Cemig) aos consumidores que serão os contratantes do modelo.
“O consumidor tem a possibilidade de escolher entre dois planos: o Basic, que proporciona acesso à energia limpa e renovável com monitoramento online de geração e consumo; e o Plus, com todos os benefícios do Basic, sendo que adicionalmente terá benefícios econômicos de até 10% nos custos totais com energia”, esclareceu Rodolfo Molinari Filho. O pagamento será na forma de mensalidade pela cota que cada cliente vai utilizar.
Para o diretor da Ebes, embora a energia solar tenha um enorme potencial no Brasil, devido à forte presença do sol em todo o País, é notório que ainda existem entraves significativos para massificar a adoção da energia solar, como, por exemplo, o custo do investimento, que pode não ser acessível a todos os consumidores brasileiros; à falta de espaço nos telhados ou à completa inexistência de espaço (como ocorre para quem mora ou possui comércios em prédios comerciais). Nesse contexto, um negócio como o oferecido pela fazenda solar permite o acesso à energia limpa, com custos adequados e sem a necessidade de se desembolsar muitos recursos para instalar um sistema completo de energia solar.