Fundo Verde da UFRJ tem opções de sustentabilidade
Maurício Corrêa, do Rio de Janeiro —
A cidade do Rio de Janeiro não é só má notícia. É verdade que no caos diário gerado por ineficiências da administração estadual, hospitais que não dispõem sequer de esparadrapo, salários atrasados do funcionalismo e muitas balas perdidas, pode-se entender que não haveria solução para uma cidade com tantos problemas. Mas não é exatamente assim, como mostra o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Fundão, onde ruas limpas e gramados aparados servem de cenário para tentativas positivas de mudança de cultura, visando à proteção do meio ambiente e à eficiência energética.
Uma das boas ideias é a convergência entre a UFRJ, o Governo estadual e a concessionária Light, por exemplo, que constituíram um Fundo Verde, através do qual todos os impostos gerados pelas atividades de energia elétrica (ICMS), exclusivamente na Ilha do Fundão, são automaticamente canalizados para um Fundo Verde, para aplicação em projetos de energia renovável e eficiência energética, mobilidade urbana e tratamento adequado das águas.
Andrea Santos, gerente de projetos do Fundo Verde da UFRJ, explica que o campus do Fundão tem uma área de 5,2 quilômetros quadrados, onde circulam diariamente cerca de 100 mil pessoas e 25 mil veículos. O consumo anual de energia elétrica situa-se na faixa de 70 mil MWh. Há três anos, a universidade buscou o apoio técnico da agência alemã para cooperação e desenvolvimento sustentável, GIZ, não apenas para mitigar os gastos da conta de luz, mas, também, para transformar o campus em um consumidor de energia limpa. O convênio com a GIZ foi renovado recentemente, para mais dois anos e olha para outras áreas, como a mobilidade urbana (com foco na redução de emissões de carbono e também na eficiência no uso de água).
Segundo esclareceu, a aplicação dos recursos do Fundo Verde não é de caráter aleatório. Há uma grande reflexão sobre os projetos nos quais a UFRJ vai canalizar os recursos gerados pelos impostos derivados da energia elétrica. “A aplicação dos recursos passa por uma licitação. Nosso objetivo é fazer com que o campus do Fundão seja uma espécie de laboratório vivo através do desenvolvimento de projetos-pilotos, nos quais envolvemos alunos de mestrado e doutorado”, disse Andrea, frisando que um conselho aprova a utilização dos recursos. A cooperação técnica repassada pela agência alemã GIZ na sua avaliação contribui para fornecer ferramentas adequadas de governança para o fundo.
A professora Suzana Kahn, coordenadora geral do Fundo Verde (graduação em Engenharia Mecânica, mestrado em Planejamento Energético e doutorado em Engenharia da Produção), preocupa-se com os impactos do aquecimento global. Na sua avaliação, é necessário melhorar a eficiência energética dos veículos, razão pela qual o Fundo Verde tem um projeto voltado para essa área, através do qual foi desenvolvida uma malha interna, no campus, destinada à circulação de bicicletas, ao mesmo tempo que são diariamente ativadas três jardineiras e uma van, veículos elétricos dotados de baterias e destinados ao transporte de pessoal.
Olhando para o gasto da água no campus, o Fundo Verde permitiu a instalação de temporizadores nas torneiras, reduzindo bastante o desperdício. Um dos cartões de visita do campus é a usina solar com 651 metros quadrados de placas instaladas em um estacionamento de veículos, contendo 414 painéis fotovoltaicos. No total a economia do campus com essas medidas de eficiência alcança cerca de R$ 500 mil por ano. Para Suzana Kahn, o resultado financeiro é relevante, mas, mais do que isso, é importante a promoção de novas práticas que induzam à mudança de comportamento, de modo que as pessoas que circulam diariamente no campos possam estar antenadas para a prática de procedimentos que reduzem os impactos ambientais.
Atualmente, a UFRJ investe em dois projetos de mais envergadura, que são a colocação de placas solares no hospital pediátrico e a montagem de uma segunda usina fotovoltaica, com área de 2 mil metros quadrados. Este projeto está em fase final de licitação e deverá ser implementado ainda em 2017.
Suzana Kahn esclarece que um dos gargalos consiste exatamente nos projetos originais de engenharia de alguns edifícios do campus, que não foram desenhados para receber o peso de muitos painéis fotovoltaicos. Nesse contexto, a UFRJ também trabalha no campo da experimentação visando à substituição dos vidros dos painéis por materiais mais leves, para que seja aumentada a capacidade de geração solar da Ilha do Fundão.