Fitch atribui “BBB” à Matrix Comercializadora
Maurício Corrêa, de Brasília (Com apoio da Fitch) —
A agência de classificação de riscos Fitch Ratings atribuiu grau “BBB”, com perspectiva estável, à Matrix, uma das principais operadoras do mercado livre de energia elétrica, que, desta forma, teve a sua nota de baixo risco classificada em um patamar melhor que o do próprio Brasil, como país, que na gestão da presidente Dilma Rousseff conseguiu a façanha de perder o chamado “investment grade” e hoje habita a zona do risco especulativo.
“O rating atribuído à Matrix reflete principalmente o risco do segmento de comercialização de energia elétrica no Brasil, o qual a Fitch considera acima da média. No caso da Matrix, este risco é atenuado pela expectativa de que a empresa mantenha adequado perfil financeiro, mesmo com uma planejada contratação de dívida e moderada posição de liquidez”, diz o release distribuído pela agência.
Para a Fitch, por estar vinculada ao setor elétrico brasileiro a Matrix está sujeita a um moderado risco regulatório. “A Fitch entende, ainda, que a governança corporativa da companhia está abaixo da média de outras empresas analisadas pela agência”, assinala o comunicado.
A volatilidade típica do mercado livre de energia elétrica é vista pela Fitch Ratings como uma espécie de limitador da classificação da Matrix Comercializadora. “Essa volatilidade traz como desafio manter uma estratégia comercial eficiente, de modo a preservar a rentabilidade de suas operações ao longo do tempo, sem que isso gere significativa exposição ao risco”, frisa, salientando que a Fitch ainda “considera positivo o fato de a empresa buscar reduzir sua exposição a essa volatilidade, por meio da aplicação de cenários de estresse nos preços de energia em relação aos seus contratos de compra ou de venda de energia descobertos, de forma que potenciais perdas não representem mais do que 50% de seu menor caixa projetado para o período em análise”.
Para a agência avaliadora de riscos, a estrutura de capital da Matrix se beneficia da reduzida necessidade de investimentos em ativos fixos, o que contribui para que não haja demanda por financiamentos. Nesse contexto, a Matrix, ao final de 2016, não possuía dívidas. No entanto, a Fitch ressalta que o cenário-base sobre o qual avaliou a comercializadora paulista considera que a Matrix deverá apresentar fluxo de caixa das operações e fluxo de caixa livre negativos em 2017, impactados por desembolsos com a antecipação de pagamentos na compra de energia, “como forma de buscar preços mais atrativos na aquisição e maiores spreads na comercialização dessa energia. Para financiar esse fluxo de caixa negativo, a agência considera que a companhia terá que ser bem-sucedida, previamente, em uma captação de recursos”.
Ao avaliar as contas da Matrix, a Fitch observou que a comercializadora tem alcançado spreads comprimidos, na média de R$ 7,30 por MWh. Como resultado, o Ebitda (sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, ou seja lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa, em 2016, foi de R$ 43 milhões, o que resultou numa margem de Ebitda de 5,4%. “Apesar de exíguo, esse desempenho foi o mais forte da companhia desde a sua constituição”, assinala o comunicado da agência.
A Matrix, segundo a Fitch, tem expandido significativamente suas operações nos últimos anos, com forte crescimento nos volumes de energia negociados. No ano passado, vendeu 7.160 GWh, 3,7 vezes o volume negociado no exercício anterior e 6,4 vezes o montante vendido em 2014, no seu primeiro ano de operação. Os preços médios da energia vendida pela comercializadora foram de R$ 111,39 por MWh, R$ 270,15 e R$ 432,30, em 2016, 2015 e 2014, refletindo preços praticados pelo mercado em geral. Mesmo assim, a receita líquida da Matrix foi, em 2016, de R$ 798 milhões, 54% superior aos R$ 518 milhões alcançados em 2015.
Ao negociar 817 MW médios, no ano passado, a Matrix se posicionou como o maior grupo segundo o critério das comercializadoras independentes, em termos de energia vendida. “A Fitch considera que a experiência dos executivos da companhia no mercado em que atua, anterior à constituição da Matrix, é positiva para a gestão comercial e para a administração de riscos, dentro de uma indústria com alta volatilidade, elevada competição e baixas barreiras à entrada de novos concorrentes”, diz a agência.