Grupo Léros dribla a crise e inova em eficiência energética
Maurício Corrêa, de São Paulo —
Em praticamente todas as palestras de Administração, costuma-se ouvir que “crise é sinônimo de oportunidade”. O Grupo Léros, de São Paulo, levou a frase ao pé da letra e, nos momentos mais agudos da recente crise econômica, encontrou um nicho, cuja fórmula começa a ser examinada por outras empresas que atuam no mercado de energia elétrica. A Léros Geradora desenvolve e financia a implantação de projetos de eficiência energética e, ao final do contrato, os bens revertem em favor do cliente, que paga uma mensalidade à desenvolvedora do projeto durante todo o período contratado.
O primeiro contrato dessa modalidade foi a implantação de uma usina fotovoltaica, instalada na Fundação Paulista de Tecnologia e Educação (Unilins), mo município de Lins, localizado a 426 km de distância da cidade de São Paulo. Segundo explica o engenheiro eletricista Bernardo Marangon, gerente de Novos Negócios da Léros Geradora, a usina compreende uma área construída de 6 mil metros quadrados, onde foram implantadas exatas 1.680 placas fotovoltaicas, com capacidade instalada de 0,5 MW.
O investimento da Léros Geradora na Unilins foi de R$ 3,5 milhões. O projeto está completando um ano de funcionamento e, segundo Marangon, o resultado tem sido bastante satisfatório para ambas as partes. “A usina gera de acordo com o que planejamos no projeto e o produto final corresponde às expectativas de redução no valor da conta de luz da Unilins”, explicou o engenheiro. “É um jogo em que todo mundo sai ganhando, pois é bom para o cliente e para a Léros Geradora”, acrescentou.
Pelo contrato, durante 20 anos a Unilins pagará um aluguel mensal à Léros Geradora. No período, se a tarifa de energia elétrica tem aumento superior à inflação, a Unilins tem um ganho. Essa comparação é adequada, pois o reajuste contratual acontece anualmente, no mesmo período do reajuste tarifário da concessionária de distribuição que atende a região de Lins.
A grande sacada dos especialistas do Grupo Léros foi perceber que havia uma faixa de consumidores de energia elétrica que estava em uma espécie de limbo, insatisfeitos pelo fato de continuarem a ser classificados como consumidores cativos das distribuidoras, mas impossibilitados, devido ao volume insuficiente de consumo, de se transformarem em consumidores livres. “A Unilins foi o nosso projeto-piloto e aprendemos muito com ele”, afirmou Marangon.
O projeto instalado pelo Grupo Léros no estabelecimento de ensino superior de Lins não é de pequeno porte. Afinal, a usina solar gera uma quantidade de energia elétrica suficiente para atender a 90% da carga da universidade. Se fosse atender à população urbana, isso corresponderia à entrega de energia elétrica para a demanda de 500 residências.
“O nosso projeto ficou bem redondo, foi muito bem delineado e isso nos permite olhar para o potencial da energia solar de uma forma diferente. É possível constatar que, além das usinas centralizadas e da geração distribuída residencial, clientes de baixa tensão podem gerar a sua própria energia, em uma escala maior. E, o que é mais importante, sem gastar um centavo na instalação da usina, pois a Léros, além de fazer a gestão do projeto, compra todos os equipamentos”, comentou Bernardo Marangon.
“A instalação da planta solar está contribuindo com a formação de massa crítica na instituição, qualificando-nos nas técnicas de análise e eficiência energética. A qualidade do projeto implementado fez com que o campus da Unilins se tornasse uma referência. Nos últimos meses, recebemos a visita de empresas, universidades e autarquias interessadas em conhecer um pouco mais sobre seus detalhes”, comenta Breno Ortega Fernandes, coordenador do curso de Engenharia da Unilins.
De fato, a ideia lançada pelo Grupo Léros já gerou um outro tipo de produto, que, na base, é similar ao da Unilins, embora com uma variação. No Centro Universitário Ítalo Brasileiro (Unítalo), situado no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, um projeto de eficiência energética resultou na troca de 3,5 mil pontos de lâmpadas convencionais por unidades do tipo LED.
Esse projeto ficou pronto em fevereiro de 2017 e tem evoluído de acordo com as expectativas dos contratantes. “Segue muito bem, resultando em uma economia média no custo da energia em torno de 7%”, garantiu o engenheiro, esclarecendo que essa economia já compreende a remuneração da geradora. Ele explicou que há uma estimativa para se chegar a 10% ao longo dos cinco anos, que é o período de contrato entre a Léros Geradora e a Unítalo. O desembolso da geradora para trocar as lâmpadas por LED, no caso, alcançou cerca de R$ 1 milhão.
“Não se trata apenas de um ganho financeiro para o cliente, que paga menos na conta de luz. Existem, neste caso, outros ganhos intangíveis e que são da maior importância, pois resulta em uma melhora da iluminação da universidade em geral. Todas as suas instalações ficaram mais claras, como as salas de aula, a biblioteca ou o a área do estacionamento, por exemplo. O ganho para os alunos também é extraordinário”, informou.
Para a UniÍtalo, a troca para as lâmpadas LED permitirá uma economia em energia de 21.130 KWh, o correspondente à iluminação de até 137 casas, além da obtenção de melhor qualidade do ar, com a redução de 11.200 kg de CO2 por mês, o equivalente a 290 novas árvores plantadas no mesmo período. “Esses resultados já podem ser medidos logo nos primeiros meses. Junto com cada cliente, analisamos o perfil da empresa e sugerimos a melhor infraestrutura energética para o que eles precisam”, esclareceu o executivo.
O gerente de Novos Negócios da Léros Geradora disse que outros contratos similares já foram fechados, mas que ainda não é possível liberar a informação. Por tudo isso, o grande problema do Grupo Léros, hoje, é administrar o sucesso, pois os dias têm sido curtos para tanto trabalho.
Assim, a empresa está contratando um assessor financeiro de renome no mercado, para atuar nos futuros projetos, considerando que geração de energia elétrica é uma atividade de capital intensivo.
O Grupo Léros, enfim, está de olho nas infinitas possibilidades de expansão, considerando as alterações introduzidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na resolução da geração distribuída. A resolução original, de número 482, era bastante restritiva, mas a que a atualizou, de número 687, introduziu uma mudança significativa, pois passou a permitir que um consumidor poderia gerar em uma região e compensar em outra. Essa alteração permite que grandes consumidores de varejo, que atuam de forma pulverizada pelo País, possam se agregar à geração distribuída.
Isso vale, por exemplo, para redes nacionais de farmácias, supermercados, operadoras de telecomunicações, bancos ou até mesmo academias de ginástica. “Não temos qualquer dúvida que 2018 será um ano muito forte, em termos de trabalho, e que será muito bom para os consumidores de energia elétrica. São evidentes as perspectivas de expansão da energia solar ou de programas de eficiência energética”, afirmou Bernardo Marangon.
Dentro dessa visão, inclusive, uma discussão praticamente torna-se quase que estéril, que é a ampliação do mercado livre. Afinal, o impacto da geração distribuída vem tão forte e com tantas possibilidades, que na verdade nem se trata mais de discutir se o mercado livre vai se ampliar ou não. Os clientes desistiram de esperar mais tempo pela decisão do Governo e resolveram arrombar a porta, o que levará as distribuidoras a reinventar o seu papel no setor elétrico.